O vigário-geral da Diocese de Mossoró, padre Flávio Augusto é o entrevistado da semana na seção. Ele abordou as inovações que serão apresentadas na edição deste ano da Festa de Santa Luzia. Padre Flávio também respondeu a questionamentos a respeito do atual momento vivenciado pela Igreja Católica no Brasil, sobre tudo em Mossoró e no Estado.
Entrevista concedida aos jornalistas Luís Juetê e Iuska Freire.
GAZETA DO OESTE - É uma grande satisfação tê-lo aqui em nossos jardins, hoje com a presença da imagem da Santa. O que esperar para a edição 2009 da Festa de Santa Luzia?
PADRE FLÁVIO - Quero cumprimentar, em especial a vocês, da GAZETA DO OESTE, os ouvintes da 95 e telespectadores da TCM. Eu acho que, primeiro a gente tem de lembrar que é uma festa marcada pela emoção muito forte. A ausência de monsenhor Américo, não tenho a menor dúvida de que vai marcar a festa de 2009. Nós não ouviremos "Mossoró com alegria" tão grande.
GO - Não há como não sentir essa ausência, não é?
PF - Não há. Eu acho que é um espaço vago que temos. Agora, quando fui convidado a responder interinamente, nesse período, pela paróquia e, consequentemente, a festa de 2009, nas primeiras reuniões, eu disse que a minha responsabilidade era, primeiro, antes de mais nada, garantir que aquilo que já estava pensado pelo monsenhor Américo e organizado em anos anteriores, pudesse acontecer, pois me sentia com a obrigação de garantir a continuidade, o formato da Festa de Santa Luzia, pois ele se esforçou demais para dar um grande formato a ela, torná-la, realmente, grande. E conseguiu. Tenho que dar continuidade a esse trabalho por ele conduzido durante tantas décadas. O que esperar mais: eu tenho dito, também, às comissões, que além de garantir a continuidade, sinto-me na obrigação de criar. Porque acho que essa era uma das características do monsenhor Américo. Ele tinha uma fantástica capacidade de criar e todo instante. Eu tinha dito a ele, uma vez, que essa virtude era a que mais eu admirada nele. Tudo isso e mais a preocupação constante com a evangelização. Se temos de dar continuidade ao trabalho de um homem que era criativo, nós temos que criar. Por isso, as comissões já estão sabendo que nós temos que garantir a continuidade criativa, vamos assim chamar. Não retiremos nada. Acrescentemos, se puder. Eu acho que essa é a dinâmica.
GO - Falando em criatividade, quais os pontos discutidos pela comissão, pois não é só um interesse meu, em particular, mas da sociedade como um todo, os devotos, enfim, queremos saber o que tem de inovação?
PF - Temos algumas coisas que estão sendo redefinidas em relação ao ano passado. Primeira delas: a gente vai tentar garantir que a festa aconteça sempre ao redor da Catedral. É claro que entendemos que é uma certa dificuldade que temos que contornar junto aos moradores, pedindo a compreensão deles. Em qualquer lugar onde a festa aconteça, teremos sempre que contar com a compreensão dos moradores, mas também com a compreensão dos que circulam no centro da cidade, assim como os comerciantes. Mas é um período muito curto. São dez dias em que a gente vai garantir a festa. Por isso vamos conversar também com o Ministério Público, para que, da melhor forma possível, a festa possa acontecer, mas sempre ao redor da Catedral. Eu acho que esse é primeiro ponto importante. Os festejos precisam estar concentrados ao redor do lugar que dá a razão de ser da festa. Das barracas, que se possa ver a torre da Catedral. Estamos tentando fazer a festa à sua volta, pois ela é o centro de tudo. Vamos tentar fazer também, este ano, com que A Mais Bela Voz, que nos últimos anos vinha sendo concentrada no Teatro, voltar para o palco principal da festa. Já no dia 3, teremos a eliminatória de Mossoró, 4, 5 e 6 a semifinal e já a finalíssima, no palco principal, porque você a possibilidade de quem está nas barracas ou passando veja, e principalmente na última noite, que o Teatro ficava com problemas de lotação. Então, vamos garantir que todos participem da melhor forma possível, sentados na praça, numa barraca, bebendo alguma, um guaraná, uma água, ou seja lá o que for, acompanhando a boa música dos talentos de Mossoró e da região. Outro elemento que estamos, pouco a pouco, desenhando, é que vamos trazer duas procissões, neste ano. Vamos garantir, primeiro, a continuidade da que já acontecia, aquela vespertina que, às 17h, sai a imagem, como tradicionalmente fazemos todos os anos. Mas vamos fazer também uma procissão motorizada. Vamos entrar no dia de Santa Luzia iluminando 13 pontos da cidade. Meia-noite do dia 12 para 13, nós vamos contar com o Sindicato dos Mototaxistas de Mossoró, com o Carcarás do Asfalto, com o Terço dos Homens, com o Cursilho de Cristandade que, organizados, vamos receber, na Praça Rodolfo Fernandes, a imagem de Santa Luzia, que vai sair da Catedral, e percorrer o Grande Alto de São Manoel, Alto da Conceição, Boa Vista, Doze Anos, voltando pela São Vicente para entrar novamente na Catedral. Até as 3h30 da madrugada, vamos estar de moto pelas ruas desses bairros. A ideia é criar um caminho de luz. Vamos ter 13 pontos nos quais a imagem pára para que uma grande vela seja acesa e ficar queimando a noite inteira, para dar uma ideia de lua, que deve ser a festa de Santa Luzia. A imagem da Santa vai de carro, por uma questão de segurança. É uma das coisas que ainda estamos desenhando e, claro, outras podem surgir para a festa 2009.
GO - Essas regiões que o senhor mencionou são bairros que, usualmente, a procissão não percorre. Foi proposital, essa escolha? O roteiro já está definido?
PF - O roteiro ainda não, mas os bairros, de fato, foram escolhidos de propósito. Porque na parte da tarde do dia 13, nós fazemos o caminho aqui pelos bairros São José, Barrocas, passamos em frente à Igreja de São José, a capela de Santa Terezinha, o cemitério, e voltamos para a Catedral. Vamos manter o mesmo percurso. Mas esses outros bairros nunca foram contemplados, a não ser com o abraço à cidade. O dia de Santa Luzia é especial. A santa vai passar também nesses bairros, mesmo que seja uma passagem rápida, mas vamos fazer isso de propósito, para que eles sejam atendidos no dia de Santa Luzia.
GO - Quando se fala em Festa de Santa Luzia, não há como não relembrar os bons tempos, quando as atividades profanas, vamos dizer assim, estendiam-se pela Avenida Dix-sept Rosado. Há como pensar num retorno às origens da festa?
PF - Sem dúvida. Temos discutido exaustivamente esse tema com a comissão da festa. Já estamos colocando essa idéia, no sentido de voltar àquilo que foi uma experiência boa e que concentra a festa em torno da Catedral. É claro que somos conscientes dos desafios.
GO - Muitos, tradicionalmente, cobram?
PF - Cobram. Muitos contam das suas experiências, de como foram e estão marcados por aquilo ali. Eu acho que tem de ver que para onde a festa for ela terá problemas. Mas temos que concentrar para que ela se caracterize como festa da padroeira da cidade, da Diocese de Mossoró. Acho que ao redor da Catedral temos condição de dialogar com os moradores, com o Ministério Público, para que façamos da Avenida Dix-sept Rosado esse grande corredor cultural, onde ali aconteça a festa, no sentido de as pessoas se confraternizarem, porque, para mim, a festa tem esse sentido, de ser uma grande confraternização.
GO - Está evitando dicotomizar o sagrado e o profano?
PF - Eu acho que a festa religiosa tem essa função, porque muitas vezes queremos fazer uma separação do profano e do sagrado. Mas a vida de cada um de nós é feita de diversas dimensões. Somos seres religiosos, cordiais, que ligamos com a economia, com a política no dia a dia, e não como negar que somos um povo festeiro. Também a religião tem suas festas. Temos um povo muito alegre. Temos que valorizar isso, porque, mesmo em meio à dor e aos problemas, vivemos tudo isso com muita alegria. Acho que devemos trazer esse entusiasmo para a festa, para que o ambiente não seja pesado e você saia dali mais carregado do que chegou. Temos que sair mais leve do que entramos. A função de uma festa de padroeiro é essa, das pessoas se confraternizarem, se alegrarem e festejarem juntas. Volto a dizer que acho que fique tudo muito concentrado para que todo mundo se encontre. A Catedral precisa ser a praça do encontro e do reencontro dos devotos de Santa Luzia, que está a poucos metros do Oratório, logo adiante uma barraca, um outro condomínio, um artesanato. Basta poucos passos e você vai encontrando tudo. Acho que tudo concentrado facilita e todo mundo vive a alegria da festa.
GO - Tivemos a grande satisfação de ter conosco a presença da imagem secular da Virgem. Essa semana a paróquia completou 167 anos, no dia 27, e essa imagem foi levada aos órgãos de comunicação. Como foi essa experiência? Foi o pontapé da Festa de Santa Luzia?
PF - Foi. A paróquia completou, no dia 27, 167 anos de fundação. Ela foi desmembrada de Apodi e tornou-se paróquia. Para marcar essa data, normalmente se tinha um momento com os comunicadores. Mas a comissão achou por bem, esse ano, ao invés de convidarmos esses comunicadores para um coquetel, um café da manhã, ou seja, lá o que fosse, a ideia foi exatamente do inverso: sairmos da sacristia e irmos até os meios de comunicação. Acho que dona Maria Emília entendeu bem a mensagem, quando disse: "Lá, vocês atingiam, no máximo, dois repórteres". O fato de nós termos ido hoje a todos os meios de comunicação, atingimos a administração, a todos que redigem, aos locutores, no caso das emissoras de rádio, a todos que se fizeram presentes. Foi uma experiência de fé fantástica, porque se colocou no clima da Festa de Santa Luzia. Não tenho a menor dúvida de que foi importante, não só para mim, mas para toda a comissão, onde eu via gente chorando, em determinadas circunstâncias de emoção, como várias pessoas dos veículos de comunicação visivelmente emocionadas. Foi um momento inédito a imagem de Santa Luzia, pela primeira vez, estar aqui na GAZETA DO OESTE, como aconteceu nos outros órgãos de comunicação. É uma imagem, é verdade. Adoramos imagens. Não, não adoramos. Mas uma imagem, para nós, é sempre uma referência, um retrato importante. E essa imagem de Santa Luzia é muito especial para nós. Trazê-la aos meios de comunicação é expressar também esse compromisso nosso de reconhecimento de todo um trabalho que vocês fazem. Vocês se matam de trabalhar o ano inteiro, e acho que também nós, que lidamos com as questões religiosas, precisamos, num dado momento, reconhecer esse trabalho, para valorizar, incentivar, também teve esse aspecto. É verdade que queríamos lançar a festa, foi o pontapé inicial, quisemos colocar todo mundo no clima da Festa de Santa Luzia, mas quisemos também passar uma outra imagem, de uma Igreja que quer sair de si mesma e quer ir a todos os lugares, e começamos por aquilo que Paulo chama de novos areópagos, em suma, é o veículo de comunicação.
GO - Sem falar em todas as pessoas que ouviram rádio, viram pela TV, leram na GAZETA...
PF - Sem dúvida. Esse é outro aspecto importante. O número de pessoas que foram atingidas, seja pelos jornais ou pelas emissoras de rádio e de TV, não dá para calcular. Porque é interessante: quando as pessoas nos viam chegar em determinado veículo de comunicação, muitas se aproximavam. Quem estava em casa ouvindo pelo rádio ou vendo pela TV, também acompanhou. Teve esse outro lado de tentar atingir o maior número de pessoas. Alguns que perguntavam como ia ser a festa, percebiam que já estavam entrando no clima da preparação dela.
GO - Como o senhor avalia esse momento vivenciado hoje pela Igreja Católica no Brasil, em função do avanço das congregações evangélicas?
PF - Eu acho que hoje nós vivemos um momento especial, no sentido de entendermos que as coisas estão sofrendo transformações muito rápidas. A grande dificuldade para a Igreja é acompanhar essa velocidade. Eu acho que esse é o grande desafio, e como saber usar esses novos meios, como se fazer uma presença. Muitas vezes nós estamos, eu diria quase que acomodados, porque aquela ideia de sermos o maior país católico do mundo, eu acho que cria uma mentalidade muito boa, porque nos deixa numa condição privilegiada. Todo mundo se acomoda, fica por isso mesmo. Até quem não tem religião nenhuma, quando o IBGE pergunta qual é sua Igreja, responde que é católico. É automático. Isso eu acho que dá uma sensação muito ruim à própria Igreja, porque, qual é a missão fundamental? Ela precisa levar o anúncio da boa-nova a todos os lugares, e a partir dos seus problemas. Hoje, o problema gritante da sociedade é o da droga.
GO - Talvez o câncer da sociedade moderna, não é?
PF - Disso não tenho a menor dúvida. Isso significa dizer que o nosso trabalho como Igreja, como religião, está atingindo um número muito pequeno de jovens. Porque se tivéssemos atingindo um número maior, consequentemente faríamos uma barreira para que a droga não crescesse da forma como está. Para mim, um dos grandes desafios é atingir a juventude deste país, para que, de fato, a gente consiga dar a resposta que ela precisa, dentro de uma perspectiva do evangelho de Jesus Cristo, para tirá-la dessas situações em que muitas vezes se encontra. Mas, ao mesmo tempo, eu vejo um tempo de esperança, porque os nossos seminários estão crescendo muito. Isso significa dizer que em pouco tempo teremos um número muito grande de padres nas paróquias, não só aqui de Mossoró. Eu olho a situação da Diocese de Natal, de Caicó, por exemplo, que já está exportando padre. Significa que, dentro de um período muito curto, teremos a evangelização avançando muito mais, a partir do número crescente de padres que vamos ter nas Dioceses, nas paróquias. A própria Diocese de Mossoró, que abriu sua Faculdade Diocesana, também nessa perspectiva, não só para os nossos seminaristas, mas também pensando nisso. Então, eu vejo que a Igreja no Brasil ainda é uma das mais ímpares que nós temos na Igreja Católica, porque nós ainda estamos antenados com os problemas, mesmo que tenhamos dificuldade de acompanhá-los. Percebo que a velocidade acaba sendo nossa inimiga, porque às vezes nos prendemos a certas coisas que estão cristalizadas, e ficamos naquela de que sempre foi feito assim, vindo a dificuldade de se abrir ao novo, evitando que as coisas despontem e cresçam.
GO - O senhor falou sobre novos padres e a Faculdade Diocesana, que as provas vão para o Rio de Janeiro. Gostaria que o senhor falasse um pouco da importância para a Diocese, e sobre todo o processo.
PF - Eu acho que padre Sátiro foi feliz quando nos disse que a concretização dessa faculdade era um sonho antigo. Por duas vezes padre Sátiro disse que houve a tentativa de se fundar. Inclusive quando a Uern foi criada, um dos pensamentos era de que fosse parte de uma rede católica. É porque, naquele momento, as circunstâncias não permitiram ao bispo dar o aval final. Mas, Dom Mariano, quando chegou, logo pensou nessa faculdade, porque uma Diocese com uma Faculdade Diocesana tem a possibilidade de garantir, não só estudo aos seus seminaristas, porque veja, a minha formação foi toda fora de Mossoró, pois fiz Filosofia em Recife, Teologia em João Pessoa, e mestrado em Roma. À medida que tenhamos uma faculdade, a formação básica primeira deverá ser em Mossoró, porque permite que o candidato a padre esteja em contato permanente com a sua própria realidade paroquial. Depois, quando partir para uma especialização, aí eu defendo que o mestrado e doutorado sejam fora, até mesmo do Brasil, porque o melhor tempo que mais abriu minha mente foi quando estive em Roma. Não só me valeu pelo título, mas, acima de tudo, pela experiência. Eu estudei numa universidade que, naquele ano, tinha 119 países representados. Numa sala de aula, muitas vezes, não tinha ninguém de língua portuguesa e, às vezes, não coincidia de ter dois do mesmo idioma. De tailandês, a chinês, europeu a latino-americano, tinha de tudo um pouco.
GO - Uma situação difícil?
PF - Difícil, mas extremamente enriquecedora. Era difícil, porque com alguns idiomas a comunicação é complicadíssima. Mas, ao mesmo tempo, profundamente enriquecedor, porque você vai sentar com um grupo de cinco, como muitas vezes eu sentei: tinha um brasileiro, um alemão, um paraguaio, um que sempre participava do meu grupo, que era das Filipinas. Você imagine o nível de discussão, quando cada um traz a experiência da sua fé, do seu país, da sua igreja, e coloca ali na mesa toda uma discussão. Eu acho que foi o tempo mais importante, porque a gente não fica discutindo só as picuinhas, mas começa a se enriquecer e perceber que é possível caminhar com essas diferenças. Portanto, eu acho que uma faculdade em Mossoró vai permitir isso. E também nós, padres, façamos uma bela discussão, não só de coisas pequenas, mas entremos na essência da evangelização. É aquilo que você perguntava de como responder aos desafios do mundo moderno.
GO - Como o senhor observa a participação de padres da Igreja Católica na política?
PF - Eu acho que nós temos uma tradição de padres envolvidos na política. Tivemos padre prefeito, padre governador, padre deputado.
GO - Inclusive um dos grandes prefeitos de Mossoró, não é?
PF - Sem dúvida. Padre Mota, histórico, não só pelas anedotas, mas, fundamentalmente, pelos serviços que prestou a Mossoró, pelas ações. Acho que Padre Mota marcou esta cidade e, às vezes, nós lembramos pouco, até mesmo na Igreja fazemos pouca memória. Há sempre uma grande dificuldade nossa em perceber que, primeiro, há uma possibilidade grande de um diálogo. Você ocupa, como padre, um lugar de referência. Tendo a capacidade de dialogar com diversos grupos, isso fica mais ainda evidente. O grande desafio para nós é não nos encantarmos. Eu mesmo tenho a convicção de que fui chamado a ser padre. Pode ser que amanhã eu me decida por outra coisa, mas até hoje é a minha convicção.
GO - Qualquer coisa como prefeito de Mossoró?
PF - Deus sabe o futuro, mas eu acho que minha vocação é ser padre. Eu me vejo e sempre vi padre, sempre planejei isso para a minha vida, desde pequeno quis ser padre. Agora, isso implica, automaticamente, numa missão que você vai sendo chamado. Eu fui reitor do seminário, hoje sou vigário-geral. Você tem que ter contato com todo mundo, uma ação nas comunidades.
GO - Exige um trabalho político?
PF - É um trabalho político, eminentemente. Eu acho que também não podemos fugir dessa responsabilidade. Agora, daí, ser candidato, é outra realidade. Porque eu acho, ainda, que você, mesmo sendo, por exemplo, candidato único, lá de Severiano Melo, minha terra, isso vai acabar dividindo as pessoas. Eu acho que a missão do padre é muito maior. Às vezes, eu acho que você é importante, nesse momento, aqui. Poderia ser um grande prefeito, um padre pode se tornar um grande deputado: pode! Mas ele pode servir muito mais de outras formas. Quando compreende que a missão dele é maior do que ocupar determinados cargos político-partidários, tomando o lugar de outros. A grande missão do padre é despertar nos leigos esse ardor. O papel se inverte quando daqui a pouco tem um padre prefeito, juiz, delegado, que faz um pouco de tudo na cidade. Eu acho que o padre tem a sua missão específica e deve trabalhar nessa perspectiva. Não sou daqueles radicais, de que padre não pode ser político. Acho que a política faz parte do nosso dia a dia, tem que haver um engajamento, que não há como construir um mundo novo, justiça, solidariedade sem passar, necessariamente, por decisões políticas, e o padre tem que ter a capacidade de dialogar com os diversos grupos, seja uma voz. Eu acho que nós precisamos disso no Rio Grande do Norte, um Estado muito partidarizado. A Igreja precisa ter padres que estejam um pouquinho acima das linhas partidárias e ajudem a classe política a pensar, a refletir, no bem da comunidade do RN, como de Mossoró. Precisamos pensar em função disso, e não de determinados grupos políticos, de um lado ou do outro.
GO - Vamos para o plano nacional, em função desses escândalos na política. Talvez não tenha faltado mais padres participando da política partidária?
PF - Eu diria que faltou um pouco mais de conscientização.
GO - Dos que foram eleitos?
PF - Exatamente. E também falta esse aspecto da conscientização na base. Nós ainda estamos pecando por omissão, quando não fazemos o trabalho de conscientização política da nossa população. A Diocese de Mossoró já teve até uma cartilha, em determinado momento político, conscientizando a população. É esse o papel: conscientizar. Quem tem que escolher os seus representantes é o povo. O nosso papel é conscientizar esse povo para que escolha bem. Quando escolhe errado, dá nesses escândalos que se sucedem. Tem que esperar quatro anos para corrigir, sonhando para que não se repitam os erros do passado. Esse é um risco que não podemos nos furtar.
GO - Saindo um pouco da área da política: no dia 21 de dezembro o Monsenhor Américo completaria 80 anos de idade. A Diocese está prepara para uma homenagem?
PF - Dom Mariano me encarregou de preparar a Festa de Santa Luzia, olhar a paróquia, também que desse uma atenção especial a essa data. Eu e Dom Mariano já tínhamos conversado com ele, que, se estivesse vivo, a Diocese faria uma homenagem. E mais ainda agora, ele tendo falecido, a Diocese sabe bem da obrigação. Eu acho que vamos entrar na era dos 80. Monsenhor faria 80 anos em 21 de dezembro. Dia 22 de janeiro vai ser padre Sátiro que fará 80 anos. Em setembro, temos padre Dário, lá em Portalegre, que vai fazer 80 anos, e ainda toma conta de seis municípios, e muito querido em todos eles. Eu diria, homens que dão sua vida estão completando 80 anos, que a Diocese terá que pensar. Estamos vendo como publicar dois livros nessa data, não sei vai ser possível, mas, pelo menos naquela noite ali, vamos caracterizar como uma noite em homenagem a ele. É bom todo mundo agendar 21 de dezembro como uma noite bonita em homenagem a ele, que possa marcar esses 80 anos de dedicação do Monsenhor Américo, dos quais quase 70 em Mossoró, porque ele entrou com 10 anos no seminário. Tirando os poucos anos que trabalhou em Assu, são mais de 60 anos dedicados a Mossoró. Claro que teve, também, o período da formação dele no Rio Grande do Sul.
GO - Por falar em Monsenhor Américo, o cartaz da Festa de Santa Luzia traz o tema que foi escolhido por ele.
PF - Exato. Ele escolheu o tema "Santa Luzia, Catequista do Amor e da Luz". Decidimos manter, até para homenageá-lo, já que ele tinha pensado. Essa semana, a agência de publicidade Alpha Ômega produziu para nós essa logomarca, que vamos utilizar. Você vê Santa Luzia em evidência, porque é a festa da padroeira, que tem a palavra de Deus como centro, o pão partilhado, como uma norma interativa para nós todos, e no fundo, a luz, a pomba do Espírito Santo, que é a luz de Jesus a guiar os nossos passos em todas as circunstâncias. Por isso, "Santa Luzia, Catequista do Amor da Luz".
Edição do dia 01/11/2009