(Vilma Lúcia de Oliveira -
FDC-Membro da Diretoria Ampliada da CRB, Núcleo de Natal )
É um desafio que a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) assumiu com o projeto: “Rede um grito pela vida”! Trata-se de uma mobilização, dos religiosos e religiosas, em nível nacional, para conhecer, enfrentar e erradicar o tráfico de seres humanos. Segundo dados fornecidos pela Declaração de Helsinque, (Finlândia), aproximadamente, 75 mil mulheres brasileiras vivem como escravas, sendo exploradas sexualmente em países europeus.O recrutamento de humanos se processa através de coações, raptos, fraudes, ou aceitação de pagamentos ou benefícios mediante consentimento de alguém com autoridade sobre outrem para fins de exploração. É um fenômeno complexo, na verdade, um crime que objetiva, em tese, quatro diferentes propósitos: 1) a exploração da industria do sexo; 2) a servidão doméstica; 3) o trabalho escravo; 4) e por fim a venda de órgãos. Pelo que se pode deduzir, trata-se de uma atividade lucrativa. A Organização do Trabalho (OIT), conforme seus estudos, afirma que o lucro anual chega a 31,6 bilhões de dólares. É a terceira fonte de lucro do crime organizado, só perde para o tráfico de armas e de drogas. O escritório da ONU contra as Drogas e Crime fez um levantamento e concluiu que para cada ser humano transportado de um país para o outro, o lucro das redes, para isto, pode chegar a U$$ 30 mil ao ano (Nicholas D. Kristof, do New York Times). O tráfico visa em geral mulheres, adolescentes e crianças em situação de vulnerabilidade social; indígenas e afrodescendentes, refugiados (as) ou migrantes ilegais, conforme afirma Priscila Siqueira (Autora do estudo “Tráfico de mulheres - oferta, demanda, impunidade”. Jornalista e Membro da ONG Serviço à Mulher Marginalizada (SMM).A Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes (Pestraf), realizada em 2002 pelo Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria), com participação de várias ONGs, apontou 110 rotas de tráfico interno (78 interestaduais e 32 intermunicipais) e 131 de tráfico internacional.O Brasil é considerado como um país de origem, de trânsito e destino neste tráfico. É um dos principais no roteiro mundial para o turismo sexual. Acrescente-se, também, o tráfico interno de crianças e adultos para o trabalho escravo na agricultura, nas minas e carvoarias.O que é que se pode fazer, como consagrados e consagradas, como Igreja, como cidadão e cidadã, para enfrentar e erradicar o tráfico de seres humanos, articulado em eficientes Redes? Precisamos, também, nos articular, em REDE, para, em princípio: 1) Socializar informações; 2) Realizar ações educativas de prevenção; 3) intensificar a luta por políticas públicas para os jovens, homens, mulheres e crianças; 4) articular e integrar ações de apoio e assistência às vítimas. O que fariam os nossos Fundadores e Fundadoras diante deste Grito, desta Chaga Social que nos circunda? Não será este um convite para tecermos uma Rede que extrapole as mesmices do que achamos ser a Tradição do Carisma dos nossos Institutos? Este, talvez seja o primeiro desafio que precisamos enfrentar para podermos formar a Rede: Um Grito pela Vida!
Fonte: Jornal A Ordem ( Arquidiocese de Natal)