Rio dos Ventos- Martins-RN
Nessa história toda parece que continuamos - nós, o bicho-homem -, sem aprender algo substancial, enquanto vítimas e mais vítimas - humanos, animais, plantas, flores e frutos - vão tombando pelo caminho. É a vida em toda sua plenitude que está sendo dilacerada.
A recente tragédia na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro, com vítimas fatais que aumentam a cada dia, afora o descaso do poder público que sempre fez vistas grossas para a construção de habitações nas encostas íngremes e irregulares, pois isso rende votos, é, na essência, culpa do desequilíbrio ambiental que tem, na origem, a agressão humana para com a Mãe e a Irmã Natureza.
Talvez não seja precipitado associar as fortes chuvas dos últimos dias ao aquecimento global. Um aquecimento que propicia em seu conjunto mais energia no sistema climático. No centro da questão está a agressão ambiental para atender ao sistema de produção que "reclama" mais produtos no mercado.
Enquanto grande parte de nossa gente, dos diversos estratos da sociedade, continuar a atender aos ditames do mercado engrossando os apelos do consumo voraz, insistindo em ver a natureza apenas como mero apêndice de um sistema econômico cada vez mais tacanho e perverso, capaz de construir uma "falsa" riqueza sobre os reais escombros da natureza, outras tragédias surgirão e mais e mais mortes serão computadas.
Para tentar reverter essa trágica situação, a idéia da prática de uma Pedagogia Ecológica, ou tenha isso o nome que tiver - ecopedagogia, consciência ecológica, bioeconomia, socialismo ecológico e outros -, se insere como condição essencial de aprendizagem capaz de proporcionar não só qualidade de vida, mas sim a preservação da própria vida.
Essa Pedagogia Ecológica aqui modestamente defendida, é fruto de ponderações de renomados pensadores da órbita ambiental, e tem como ponto focal pensar num mundo sustentável partindo do conhecimento pleno do ambiente aliado a uma relação harmoniosa para com a natureza.
Essa Pedagogia Ecológica, para resumirmos essa idéia em poucas palavras, pressupõe uma regência do mundo natural, em todas suas matizes, de forma a se coadunar na prática do comum e irrestrito respeito ambiental, afastando-se do consumo voraz e vendo a vida no futuro como parceira indispensável da natureza.
Na essência, trata-se de uma proposta de ecologia pedagógica que visa ensinar primeiro a respeitar o recurso natural, pois isso se reflete na qualidade de vida. Isso deverá ser ensinado nos primeiros anos de estudo, fazendo com que a garotada tenha contato inicial com a necessidade de preservar a natureza, tal qual defendemos em outro artigo que, para nossa satisfação, teve boa acolhida e ampla repercussão nos sites e boletins informativos que circulam pela internet.
Além disso, essa proposta de Pedagogia Ecológica não deverá ficar restrita aos bancos escolares. É necessário e mesmo fundamental para o sucesso dessa proposta, que isso ganhe tom de campanha nacional, veiculado em termos de propaganda televisiva no horário nobre, permitindo a possibilidade de maior consciência ecológica de todos nós.
A "linguagem" usada nessa proposta de Pedagogia Ecológica televisiva e escolar, deve ser fácil e inteligível, capaz de "chegar" a todos, do Phd que poderá reproduzir isso em sala de aula, até o mais humilde morador de uma simples habitação num pedaço de morro qualquer.
Edward Teller certa vez disse que "A ciência procura encontrar lógica e simplicidade na natureza". Kepler, de certa forma, corroborou afirmando que "A natureza ama a simplicidade" e Newton, por sua vez, pontuou que "(...) a natureza se apraz com a simplicidade".
Pois é com essa simplicidade, levando um discurso de reconstrução e preservação ambiental que devemos trabalhar. A hora é de unir esforços - poder público, sociedade civil, organizações não governamentais, movimentos populares, imprensa e universidade - para levar à frente essa campanha de Pedagogia Ecológica que é mais que informativa; é uma campanha de orientação e precaução de novas tragédias.
Uma vez realçada essa idéia, incorporando novos adeptos, não seria presunção afirmar que outras tragédias poderão ser evitadas. Assim, se há alguém ou algo que poderá ganhar com isso, esse "algo" é, certamente, uma "coisa" indispensável que nos foi dada com total estima: a vida.
Assegurar a vida é, antes, buscar o equilíbrio ecológico. Para isso, nada melhor que todos tenham em mente a necessidade de saber o que fazer com a natureza.
A natureza nunca foi má conosco; nós é que sempre fomos perversos com ela. É a nossa chance de retribuir o que a natureza sempre nos deu.
* Marcus Eduardo de Oliveira é economista, articulista do site "O Economista", do Portal EcoDebate e da Agência Zwela de Notícias (Angola).