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Irmão do Diácono Cornélio é destaque em Jornal da Unicamp pela obstinação.


Manoel Freire

HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO

Os pesquisadores Fabiana Bonilha, Manoel Freire ( irmão do Diácono Cornélio), Márcio Vallim e Vinicius Garcia concluíram ou cursam o doutorado na Unicamp. Embora oriundos de diferentes áreas do conhecimento, todos têm algo em comum: a obstinação. São trajetórias de vida emblemáticas no que diz respeito ao poder transformador da educação e à possibilidade de acesso a ferramentas e programas inclusivos.
Fabiana possui deficiência visual e tornou-se doutora em musicografia braile. Freire, que concluiu os estudos secundários por meio de supletivo a distância, é hoje doutor pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Vallim perdeu a visão em 2000, mas isso não o impediu de continuar o doutorado em Química. Garcia, que tem tetraplegia, analisa em sua tese a relação entre mercado de trabalho e pessoas com deficiência.

1- A escola da comunidade rural de Melancias, no município de Apodi, RN somente oferecia ensino até a quarta-série do ensino fundamental. Foi lá mesmo que Manoel Freire Rodrigues, hoje doutor pela Unicamp, tirou o diploma aos 13 anos. A partir daí houve um hiato na educação do jovem. Ele queria continuar estudando, mas precisava ajudar o pai na roça. Freire passou uma boa temporada fora da escola. Contudo, o desejo de estudar manteve-se vivo. A solução veio quando o jovem tinha 17 anos, por meio de um supletivo a distância do Instituto Universal Brasileiro. Era o começo de uma transformação que iria mudar a vida de Freire e influenciar o destino da família de doze filhos.
Cansado depois do trabalho do dia na lavoura, estudava em casa sozinho, à luz de lamparinas, porque não havia luz elétrica à época. Foi assim que o jovem terminou o primeiro grau. Mas ele percebeu que era possível terminar também o segundo grau por meio do ensino a distância. E terminou. Aos 21 anos, diploma na mão, veio o desejo de prosseguir com os estudos na universidade. Freire, porém, não achava que fosse capaz de concorrer em pé de igualdade com os alunos que tinham feito o ensino regular. Deixou a dúvida de lado e se inscreveu para o vestibular da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN). Prestou a prova e então veio a surpresa: foi o primeiro colocado no curso de Letras.
Feliz com a notícia, a família se regozijou porque, segundo Freire, sempre teve consciência de que a única possibilidade de melhorar a situação financeira era por meio do estudo. O estudante ainda trabalhou por seis meses na lavoura com o pai. Andava seis quilômetros por dia de bicicleta de Apodi até a cidade de Severino Melo, RN, onde a Prefeitura custeava o transporte dos alunos até o campus da UERN, em Pau dos Ferros.
A situação mudou mais ainda quando Freire arrumou um emprego no alambique do pai de um amigo em Severino Melo, que também lhe permitiu que morasse em sua casa até se estabilizar. Ali trabalhou por dois anos, até que o resultado de tanto esforço começou a aflorar: o estudante conseguiu um emprego em uma escola particular da região, onde trabalhou nos últimos anos do curso. “Não parei mais. Terminei a faculdade em 1995 e fiz um curso de especialização em Linguística Aplicada. Em 1998, ingressei no mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ao mesmo tempo em que passei no concurso para professor da UERN, onde atuo até hoje.” Freire destaca que precisava conciliar as duas coisas, o mestrado em Natal e a docência em Pau dos Ferros.
O mestrado na UFRN foi de certa forma a porta de entrada de Freire na Unicamp. O orientador de sua pesquisa era um professor paulista, Marcos Faleiros. À época da defesa, o aluno sugeriu o nome de Antonio Arnoni Prado, professor do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp como um dos componentes da banca, por conhecer seus trabalhos sobre o autor Lima Barreto, também objeto da pesquisa de Freire.
Faleiros encontrou-se com Arnoni, o qual aceitou fazer parte da argüição de Freire. Interessado na pesquisa do jovem potiguar, Arnoni lhe disse que, se quisesse fazer o doutorado na Unicamp, poderia contar com a sua orientação. Dois anos depois, Freire desembarcava em Campinas, após ser aprovado no processo de seleção do doutorado.
 "Destaco dois pontos importantes: fazer o doutorado nesta instituição que é muito respeitada no país; e a afinidade com o orientador. Para mim, foi muito interessante passar esse tempo trabalhando e dialogando com o professor Arnoni”, finaliza Freire, que terminou em 2009 os estudos sobre Lima Barreto na Universidade. A trajetória de Freire, dos tempos do estudo à luz de lamparinas até o doutorado na Unicamp, influenciou os irmãos. Seis deles entraram na faculdade, e dentre estes há mais dois professores universitários.


Fonte: Jornal da UNICAMP
Texto- Talita Matias
Dom Mariano, Papa e Cornélio