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Seu Mané, da Rural



'Gente da cidade, dos sítios, fazendas! Acorda, acorda, levanta, levanta trabalhador! Começa agora o seu programa, receba a nossa mensagem de informação, alegria e bom humor para você. Na locução, este amigo de vocês, que vocês já sabem, Seu Mané, amando e carente de amor...'
Nas primeiras horas da manhã era assim que Seu Mané dava bom dia ao trabalhador de todos os cantos da cidade e de outras cidades em um dos programas mais antigos da Rádio Rural em Mossoró, ‘O Sertão, a Rural e Seu Mané’.
Fora da área urbana, as comunidades rurais tinham no rádio, principalmente há muitos anos, quase que um dos principais meios de informação, ao menos o mais popular meio. A presença de Seu Mané no rádio AM o fez uma figura conhecida, popular.
Na última semana, no dia 8 de outubro, a voz de Seu Mané deu lugar ao silêncio em meio ao luto por sua perda, aos 70 anos. Os problemas de saúde que o acometiam há vários anos o levaram a óbito às 5 horas da manhã daquele dia na UTI do Hospital Tarcísio Maia, vítima de um coma alcoólico.
A Revista DOMINGO já havia realizado outras entrevistas com Seu Mané sempre em que a temática do rádio em Mossoró era colocada, devido às muitas histórias e nelas ele falava de sua paixão pelo rádio. Estava aposentado, mas continuava à frente dos microfones por vocação e paixão ao que fazia. Seu Mané era casado com Geralda Maria de Medeiros, deixou sete filhos e sete netos.

Vida
Manoel Alves de Oliveira nasceu em Felipe Guerra, em 22 de fevereiro de 1942. Era Cidadão Mossoroense agraciado com o título pela Câmara Municipal.
Filho da lavadeira Luíza Maria da Conceição e do lavrador Sebastião Lourenço, é o quarto filho de sete irmãos. Aos 10 anos mudou-se para Mossoró, morando inicialmente na casa de uma tia, no bairro Bom Jardim, trabalhou em armazém de cereais, que pertencia à época ao comerciante José Serafim. Depois, foi vender “confeito” na calçada do cinema Cine Jandaia, que ficava na Alberto Maranhão e que pertencia ao grupo de Renato Costa.
Depois de prestar serviço ao Exército, surgiu a Rural, se inscreveu para controlista em 1963. Em entrevista concedida à TCM em 2006 – (programa Mossoró de Todos os Tempos), Seu Mané conta que foram 64 candidatos para se escolher quatro controlistas e padre Américo o chamou para atuar na função como um dos escolhidos. Orgulhava-se de dizer que teve o prazer de abrir os microfones para a primeira transmissão na inauguração da rádio.
A oportunidade de locutor veio em 1964, quando o locutor do programa Violas e Repentes faltou e o então diretor artístico Amâncio Dantas, diante da ausência do diretor padre Américo, perguntou se Manoel gostaria de apresentar. Ele disse que sim, mas temia padre Américo. No outro dia, padre Américo perguntou se ele queria o programa e permaneceu como locutor, criando vários programas de sucesso entre eles: Rural, Sertão e Seu Mané, A Hora da Qualhada, Seu Mané Toca Tudo, Mensagens Notas e Avisos, Rural Joia Joia. Também comandou programas ao vivo de auditório como o programa ‘Saudades’, ao vivo no miniauditório da rádio e o “Show das Dez”, que acontecia no antigo Cine Pax.
O programa de mensagens era mais do que uma utilidade pública. Naquele tempo não tinha FM, havia telefone, mas não era uma coisa fácil e nem mesmo orelhão em todo o lugar. Seu Mané fazia duas horas, até três horas de programa e dele surgiram muitas histórias engraçadas, pelo fato de falar no ar quase da mesma forma como as pessoas falavam no seu cotidiano. (Veja quadro)
Uma característica dos programas era a grande audiência que por décadas lotava a emissora com correspondências, cartas com elogios e pedidos de músicas:
“Recebia cartas e mais cartas e na época da Festa de Santa Luzia levava para o palco da rádio, que era montado para a festa, e lia muitas destas cartas. Em meio às cartas, também tinha elogios e até cartas de amor das moças”, relembrou em depoimento dado para o programa em 2006. Participou por muitos anos da apresentação do concurso A Mais Bela Voz e foi responsável pela descoberta de talentos. Um dos talentos mais lembrados com orgulho pelo próprio Seu Mané foi Bartô Galeno.
“Seu Mané se orgulhava muito e sempre contava isso, que convidou Bartô, na época Bastinho Silva, pessoalmente, e todo o sábado ele participava como convidado do programa dele aos sábados. Depois Bartô foi incentivado a participar do concurso e depois de vencer, Carlos André o levou para o Rio para gravar, onde se deu o seu sucesso. O artista, que hoje reside no Rio de Janeiro, ao saber que Seu Mané veio a óbito, deu depoimento emocionado por telefone no nosso programa e percebemos o quanto ele foi grato pela oportunidade”, lembrou Valéria Bulcão, jornalista e colega de Seu Mané na Rádio Rural.

A Rádio e o padre Américo
Seu Mané era muito apegado à Rádio Rural e teve no diretor da emissora, padre Américo Simonetti (este ano completou três anos de seu falecimento), um grande amigo. Neste mesmo programa em que Seu Mané falou de sua vida, um depoimento de padre Américo ficou registrado, refletindo o carinho que havia entre ambos:
“A vida de seu Manoel Alves dá um livro, aliás, dá vários volumes. Ele vestiu a camisa da Rádio Rural, o acompanhei por mais de 40 anos no tempo que estive dirigindo a rádio. Este homem me traz muitas recordações. Um homem fiel, se comprometendo, cumpre o que diz, apesar dos pesares, com seus altos e baixos, sempre procura satisfazer aos objetivos e princípios da empresa. Ele tem uma percepção fácil das coisas. Nas reuniões mensais com os funcionários, mesmo sendo um homem simples, nascido nas bases do povo, ele percebia o pensamento e dava suas opiniões, não se omitia. O que penso sobre Seu Mané é que merecia um filme sobre sua vida, seus primeiros empregos, os anos que passou na rádio rural, tem história bonita de aprendizado. Sinto que as qualidades, o coração de seu mané encobre as falhas e encobre os seus defeitos, tenho em seu mané um amigo”. – (Depoimento de Padre Américo para o programa Mossoró de Todos os Tempos, TV Cabo de Mossoró em 07/07/2006).

Texto- Izaíra Talita
Fonte: Revista Domingo do Jornal De Fato

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Missa de 7º Dia- 14/10
Horário- 16h
Igreja- São José
Celebrante- Pe Carlinhos