"Foi
o orgulho que transformou os anjos em diabos; é a humildade que torna os homens
iguais aos anjos”.
Foi com estas palavras de Santo
Agostinho que o Papa abriu o seu discurso aos trabalhadores do Vaticano a quem
quis agradecer e desejar Bom Natal. Foi nesta segunda-feira ao meio dia na
grande Sala Paulo VI do Vaticano.
Pouco antes o Papa tinha recebido os chefes dos
Dicastérios do Vaticano e os Superiores da Cúria Romana para os votos de Natal.
O Papa aproveitou a ocasião para reflectir com eles sobre
a Cúria Romana como um Corpo que procura estar cada vez mais unido e mais
harmonioso. Discurso sobre o qual convidou os trabalhadores a meditarem
em preparação do Santo Natal e do Ano Novo.
Mas o Papa queria antes de mais agradecer. E fê-lo
dirigindo-se primeiramente aos trabalhadores italianos que são a maioria
no Vaticano e que têm dado, ao longo da História, um contributo importante e
indelével à Igreja. Depois agradeceu também aos trabalhadores vindos de
outros países e que representam para a Cúria o rosto da “catolicidade” da
Igreja.
Uma atenção particular o Papa dedicou-a àqueles que
trabalham sem se fazer ver e que ironicamente – disse – se autodefinem “os
ignotos, os invisíveis” ou seja os jardineiros, os operários da limpeza, os
porteiros, os ascensoristas, os minutantes e tantos outros.
“Graças ao vosso empenho quotidiano e ao vosso premuroso
esforço, a Cúria se exprime como um corpo vivo em caminho: um verdadeiro
mosaico rico de fragmentos diferentes, necessários e complementares” – disse o
Papa citando São Paulo que nos recorda que no corpo humano nenhuma parte é
inutil.
Pensando, a partir disso, em cada uma das pessoas que
trabalham na Cúria e que fazem dela um Corpo vivo, dinâmico e bem cuidado, o
Papa passou da palavra “Cúria” para “cura”, pondo esta palavra que significa
“cuidar” no centro do seu discurso. E explicou:
“Cuidar significa manifestar um interesse deligente e
premuroso, que empenha tanto o nosso ânimo como a nossa actividade, em relação
a alguém ou a alguma coisa; sigifica olhar com atenção para aquele que
necessita de cuidados sem pensar noutra coisa; significa aceitar dar ou receber
cuidados. Vem-me à cabeça a imagem duma mulher que cuida do filho doente, com
tanta dedicação, considerando como própria a dor do filho. Ela não olha para o
relógio, não se queixa nunca de não ter dormido, não deseja senão ver o filho
curado, custe o que custar.”
E agradecendo mais uma vez pelo cuidado que põem no seu
trabalho, como ele próprio tem constatado neste tempo que já passou no
Vaticano, o Papa Francisco exortou os trabalhadores a cuidarem da própria vida
espiritual, da família, dos outros, da linguagem que usam e que não deve conter
palavras ofensivias obcenas, dos corações feridos contrapondo a isso o perdão,
do próprio trabalho, a evitarem a inveja, o rancor, a cuidarem dos mais débeis
e por fim a fazerem do Santo Natal não uma festa comercial, de aparências e de
presentes inúteis, mas sim uma festa de alegria, de acolhimento do Senhor no
Presépio e no coração.
E o Papa convidou cada um a reflectir sobre o que deve
cuidar mais, e nisto voltou a indicar a família como principal objecto do nosso
cuidado:
“A famíglia é um tesouro, os filhos são um tesouro”
– disse, lançando uma pergunta aos pais:
“Eu tenho tempo para brincar com os meus filhos, ou
estou sempre empenhado, empenhada, e não tenho tempo para os filhos” (...)
brincar com os filhos: é tão bonito. E isto é semear futuro”
Por fim o Papa disse imaginar como mudaria o mundo se
cada um de nós começasse já a cuidar sériamente de si próprio e a cuidar
generosamente da sua própria relação com Deus e com o próximo, se
olhassemos para o outro, especialmente o mais necssitado com olhos de bondade e
de ternura como Deus olha para nós, nos espera e nos perdoa; se encontrassemos
na humildade a nossa força, o nosso tesouro. Mas muitas vezes – disse -
temos medo da ternura e da humildade.
Francisco recordou que o Natal é a festa de Jesus que
veio para servir e não para ser servido; é a festa da Paz na Terra, uma paz que
precisa do nosso entusiasmo, do nosso cuidado, para aquecer os corações
gelados, para encorajar as pessoas que perderam a esperança e para iluminar os
olhos apagados com a luz do rosto de Cristo.
E o Papa Francisco terminou agradecendo mais uma vez a
todos os trabalhadores e aos seus familiares, aos seus filhos, especialmente os
mais pequenos, enviando a todos um abraço.
Depois deste abraço, suscitou ainda mais aplausos ao
pedir perdão pelas suas faltas e dos seus colaboradores e também por alguns
escândalos que fazem tanto mal. Perdoai-me!
Bom Natal e por favor rezai por mim.... E a todos deu a
sua benção, rezando connosco a Avé Maria..
Rádio Vaticano