As atividades da Caravana Socioambiental ao eixo norte do
Rio São Francisco encerraram ontem, quinta-feira (03). O ponto forte foi um
diálogo entre representantes de instituições ligadas a questões sociais,
bispos, professores e representantes dos governos municipais, estaduais e
federais. Após esta última programação, será elaborado um documento com as
impressões e pontos de reflexão que será enviado aos governantes em breve.
Segundo Josivan Cardoso, diretor presidente do Instituto de Gestão das Águas do
Estado do Rio Grande do Norte (IGARN), o Estado se comprometeu, em um prazo de
30 dias, reestruturar o órgão para receber as águas do São Francisco.
“Acompanhamos desde o início esta caravana e, a cada dia, fomos repassando a
situação atual ao governo do Estado, que se comprometeu em pensar a política de
recursos hídricos, diante de tudo isso que vimos aqui. Posso dizer que essa
ação já foi resultado da caravana”, comemorou.
No início da manhã, aconteceu celebração eucarística,
presidida pelo Arcebispo Metropolitano de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha e
concelebrada pelos demais bispos e padres presentes na comitiva. Na homilia,
Dom Jaime disse que as águas do São Francisco devem ser, para nós, sinal de
vida. “Com este legado, vamos entendo o nosso papel, a nossa missão, perante o
povo. É um projeto arrojado e moderno, mas é preciso ter clareza daquilo que
queremos com esta obra. Nós todos queremos participar e acompanhar estas iniciativas,
para que se cumpra tudo aquilo que é direito de todos”, frisou.
Após a missa, teve início o diálogo com a sociedade,
momento em que foram apresentados dois testemunhos de comunidades que convivem
com a incerteza do benefício que a integração de bacias com o São Francisco
trará para a população local. José Fernandes, representante do Sítio Baixo
Grande, em Jati (CE), falou sobre o compromisso que o governo tem que ter com o
povo da comunidade. “O nosso desejo é que o governo nos ajude a ter uma fonte
de renda, porque sabemos dessa água que vem, mas não temos a certeza da forma
que ela vai vir para nós. Dessa forma, continuaremos na mesma situação.
Precisamos que o governo nos dê condições de produzir e sobreviver”, relatou.
Para Valdeci Oliveira, da Comunidade de Conceição das
Crioulas (PE), ainda não está claro se a comunidade poderá ter acesso à agua do
São Francisco. “O projeto é grande, não temos dúvida disso e é de nossa
consciência que é algo importante, mas não sabemos como vamos ter acesso a esta
água. Nós precisamos garantir o direito de acesso a este bem”, enfatizou.
Na sequência, foi aberta a plenária. Otto Santana, da
Arquidiocese de Natal, alertou que é preciso pensar novas políticas públicas para melhorar a renda das famílias.
“Precisamos pedir a Deus que converta o coração das pessoas, no sentido do amor
aos pobres. Estamos vivendo um momento de uma obra grandiosa, mas esquecemos de
dizer que esta obra está sendo construída pelo esforço do povo, principalmente
dos pobres. Por isso, devemos pensar em iniciativas que tratem de forma
diferente o grande e o pequeno. O pobre não pode pagar por aquilo que é direito
dele”, reforçou.
Carlos Guedes, representante do Ministério de Meio
Ambiente informou que é preciso valorizar a dimensão da obra e os desafios que
se tem pela frente. Segundo Carlos, o governo federal está empenhado em
políticas que possibilitem a renda para a população rural. “Estamos com o
compromisso com a casa comum. A parte física do São Francisco será completada
em breve, mas, temos consciência que a dimensão socioambiental da obra vai
representar um desafio para os Ministérios. Estamos empenhados em acompanhar a
população rural, para que eles sejam contemplados da melhor forma possível”,
explica.
Roberto Jefferson, secretário executivo do Observatório
Social do Nordeste, disse que as discussões acerca desta temática não
encerrarão na caravana, mas seguirão em outras inciativas propostas pela Igreja
Católica, como o Seminário Social, que acontecerá de 18 a 20 de maio, na cidade
de Campina Grande (PB).
O secretário de infraestrutura hídrica do Ministério da
Integração Nacional parabenizou esta iniciativa da Igreja Católica e fez
memória à encíclica do Papa Francisco, Laudato si. “A minha mensagem é de que
devemos fazer o uso racional da água, como nos pede o Papa, na encíclica.
Porque se não usarmos racionalmente o bem, não alcançaremos a dimensão que esta
obra vai proporcionar à população”, destacou.
Fonte: Arquidiocese de Natal
Fotos- Pe Talvacy Chaves
Fotos- Pe Talvacy Chaves