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Leia na íntegra a Mensagem para a Jornada de Santificação do Clero 2018, celebração realizada durante a solenidade do Sagrado Coração de Jesus.





Tradicionalmente realizada durante a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a Jornada de Santificação do Clero 2018 celebrada em todo o mundo nesta sexta-feira, dia 8 de junho. Por sugestão da Congregação para o Clero, que o Papa S. João Paulo II prontamente acolheu e estendeu à Igreja Universal, desde a Quinta-feira Santa de 1995, é proposto que na festa do Sagrado Coração de Jesus se celebre a Jornada Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes. Uma oração que recorde aos Sacerdotes o desafio de tender para a Santidade, dizia o Santo Padre, “a fim de sermos ministros de santidade para os homens e mulheres confiados ao nosso serviço pastoral”, tendo em vista “conformarem-se cada vez mais plenamente com o coração do Bom Pastor”.

MENSAGEM PARA A JORNADA DE SANTIFICAÇÃO DO CLERO 2018

 Caros Sacerdotes,


 A Jornada de Santificação do Clero, celebrada na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, nos oferece a ocasião de nos determos na presença do Senhor, para renovar a memória do nosso encontro com Ele e, assim, revigorar a nossa missão a serviço do Povo de Deus. Não devemos nos esquecer, de fato, que o fascínio da vocação que nos atraiu, o entusiasmo com o qual escolhemos caminhar no caminho da consagração especial ao Senhor e os prodígios que vemos na nossa vida presbiteral têm a sua origem no cruzamento de olhares que ocorreu entre Deus e cada um de nós. 
Todos nós, de fato, “tivemos na nossa vida algum encontro com Ele” e cada um de nós pode fazer a própria memória espiritual e retornar à alegria daquele momento “no qual eu senti que Jesus me olhava” (PAPA FRANCISCO, Homilia Santa Marta, 24 de abril de 2015).
Também os primeiros discípulos viveram a alegria da amizade com Jesus, que mudou para sempre a sua vida. Todavia, depois do anúncio da Paixão, sobre o seu coração estendeu-se um véu de obscuridade que escureceu o seu caminho. O ardor do seguimento, o sonho do Reino de Deus inaugurado pelo Mestre e os primeiros frutos da missão chocam-se agora com uma realidade dura e incompreensível, que faz vacilar a esperança, alimenta as dúvidas e ameaça apagar a alegria do anúncio do Evangelho.
É o que pode acontecer sempre, também na vida do Sacerdote. A grata memória do encontro inicial, a alegria do seguimento e o zelo do ministério apostólico, talvez levado adiante por anos e em situações nem sempre fáceis, podem dar lugar ao cansaço ou ao desencorajamento, fazendo avançar o deserto interior da aridez e envolvendo a nossa vida sacerdotal na sombra da tristeza. Exatamente nesse momento, porém, o Senhor, que jamais se esquece da vida dos Seus filhos, nos convida a subir com Ele ao Monte, como fez com Pedro, Tiago e João, transfigurando-se diante deles. Conduzindo-lhes “ao alto” e “à parte”, Jesus lhes faz completar a maravilhosa viagem da transformação: do deserto ao Tabor e da escuridão à luz.
Caros Sacerdotes, temos necessidade, a cada dia, de sermos transfigurados por um encontro sempre novo com o Senhor que nos chamou. Deixar-nos “conduzir para o alto” e ficar “à parte” com Ele não é um dever do ofício, uma prática exterior ou uma inútil subtração de tempo às incumbências do ministério, mas a fonte jorrante que corre em nós para impedir que o nosso “eis-me aqui” resseque e torne-se árido. 
Contemplando a cena evangélica da Transfiguração do Senhor, podemos então tomar três pequenas passagens, que nos ajudarão a confirmar a nossa adesão ao Senhor e a renovar a nossa vida sacerdotal: subir ao alto, deixar-se transformar, ser luz para o mundo. 

1. Subir ao alto, porque se permanecermos sempre centrados nos afazeres, corremos o risco de nos tornar prisioneiros do presente, de ser sugados pelas incumbências cotidianas, de ficar excessivamente concentrados sobre nós mesmos e, assim, de acumular cansaços e frustrações que poderiam ser letais. Do mesmo modo, “subir ao alto” é o antídoto contra aquelas tentações da “mundanidade espiritual” que, também por trás de aparências religiosas, afastam-nos de Deus e dos irmãos e nos fazem colocar segurança nas coisas do mundo. Temos necessidade, ao invés, de imergir a cada dia no amor de Deus, especialmente através da oração. Subir ao monte nos recorda que a nossa vida é um ascender constante à luz que provém do alto, uma viagem ao Tabor da presença de Deus, que escancara horizontes novos e surpreendentes. Essa realidade não quer nos fazer fugir das ocupações pastorais e dos desafios cotidianos que nos alcançam, mas intende recordarnos que Jesus é o centro do ministério sacerdotal e que tudo podemos somente naquele que nos dá força (Fl 4,13). Por isso, “A subida dos discípulos ao monte Tabor nos induz a refletir sobre a importância de apartarmo-nos das coisas mundanas, para cumprir um caminho para o alto e contemplar Jesus. Trata-se de nos dispormos à escuta atenta e orante de Cristo, o Filho amado do Pai, buscando momentos de oração que permitam o acolhimento dócil e alegre da palavra de Deus” (PAPA FRANCISCO, Angelus, 6 de agosto de 2017). 
2. Deixar-se transformar, porque a vida sacerdotal não é um programa no qual tudo já está sistematizado de antemão ou um ofício burocrático a ser exercido de acordo com um esquema preestabelecido; ao contrario, ela é a experiência viva de uma relação cotidiana com o Senhor, que nos torna sinal do Seu amor junto ao Povo de Deus. Por isso, “não poderemos viver o ministério com alegria sem viver momentos de oração pessoal, face a face com o Senhor, falando, conversando com Ele” (PAPA FRANCISCO, Encontro com os párocos de Roma, 15 de fevereiro de 2018). Nessa experiência, somos iluminados pelo Rosto do Senhor e transformados pela Sua presença. Também a vida sacerdotal é um “deixar-se transformar” pela graça de Deus, para que o nosso coração se torne misericordioso, inclusivo e compassivo como o de Cristo. Trata-se simplesmente de ser – como recordou recentemente o Santo Padre – “padres normais, simples, mansos, equilibrados, mas capazes de se deixar constantemente regenerar pelo Espirito” (PAPA FRANCISCO, Homilia Concelebração Eucarística com os Missionários da Misericórdia, 10 de abril de 2018). Essa regeneração acontece primeiramente através da oração, que muda o coração e transforma a vida: cada um de nós “torna-se” Aquele que ora. Fará bem recordar, nesta Jornada de Santificação, que “a santidade faz-se de abertura habitual à transcendência, que se exprime na oração e na adoração. O santo é uma pessoa de espírito orante, que tem necessidade de comunicar-se com Deus” (PAPA FRANCISCO, Gaudete et Exsultate, n.147). Subindo ao Monte, seremos iluminados pela luz do Cristo e poderemos descer ao vale e levar a todos a alegria do Evangelho.
3. Ser luz para o mundo, porque a experiência do encontro com o Senhor nos envia na estrada do serviço aos irmãos, a Sua Palavra recusa-se a fechar-se no privado da devoção pessoal e no perímetro do templo e, sobretudo, a vida sacerdotal é um chamado missionário, que exige a coragem e o entusiasmo de sair de si mesmo para anunciar ao mundo inteiro tudo quanto ouvimos, vimos e tocamos na nossa experiência pessoal (cf. 1Jo 1,1-3). Fazer conhecer aos outros a ternura e o amor de Jesus, para que cada um possa ser alcançado pela Sua presença que liberta do mal e transforma a existência, é a primeira tarefa da Igreja e, por isso, a primeira grande ocupação apostólica dos presbíteros. Se existe um desejo que devemos cultivar, é o de “ser padres capazes de levantar no deserto do mundo o sinal da salvação, isto é, a Cruz de Cristo, como fonte de conversão e de renovação para toda a comunidade e para o próprio mundo” (PAPA FRANCISCO, Homilia Concelebração Eucarística com os Missionários da Misericórdia, 10 de abril de 2018). 
O fascínio do encontro com o Senhor deve encarnar-se em um empenho de vida a serviço do Povo de Deus que, prosseguindo frequentemente no vale obscuro das fadigas, do sofrimento e do pecado, tem necessidade de Pastores luminosos e radiantes como Moisés. De fato, “ao término da experiência admirável da Transfiguração, os discípulos desceram do monte (cf. v. 9). É o percurso que podemos completar também nós. A redescoberta sempre mais viva de Jesus não é uma finalidade em si mesma, mas no induz a ‘descer do monte’... Transformados pela presença de Cristo e pelo ardor da sua palavra, seremos sinal concreto do amor vivificante de Deus por todos os nossos irmãos, especialmente por quem sofre, por quantos se encontram na solidão e no abandono, pelos doentes e pela multidão de homens e de mulheres que, em diversas partes do mundo, são humilhados pela injustiça, pela prepotência e pela violência” (PAPA FRANCISCO, Angelus, 06 de agosto de 2017).

Caros Sacerdotes, a beleza deste dia, consagrado ao Coração de Jesus, possa fazer crescer em nós o desejo da santidade. A Igreja e o mundo têm necessidade de Sacerdotes santos! O Papa Francisco, na nova Exortação Apostólica sobre a santidade, Gaudete et Exsultate, reportou à memoria os Sacerdotes apaixonados em comunicar, em anunciar o Evangelho, afirmando que “a Igreja não tem necessidade de tantos burocratas e funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os santos surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da mediocridade tranquila e anestesiadora” (PAPA FRANCISCO, Gaudete et Exsultate, n. 138). Será necessário para nós completar, primeiro interiormente, esse caminho de transfiguração: subir ao Monte, deixar-se transformar pelo Senhor, para depois tornar-se luz para o mundo e para as pessoas que nos são confiadas. Possa Maria Santíssima, Mulher luminosa e Mãe dos Sacerdotes, acompanhar-vos e guardar-vos sempre. 


Tradução: Pe. Clodomiro de Sousa e Silva