Em uma noite de festa, a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) celebrou nessa sexta-feira, 28, 50 anos de história. O marco da programação festiva foi a Assembleia Universitária, que reuniu a comunidade acadêmica e a sociedade no Teatro Municipal Dix-huit Rosado, em comemoração ao jubileu de ouro da Instituição.
O bispo da Diocese de Mossoró, Dom Mariano Manzana, foi agraciado com o título de Professor Honoris Causa. Para o religioso, a homenagem é um reconhecimento ao trabalho da Igreja sempre ao lado do desenvolvimento da Universidade. “Vários padres, como Padre Sátiro Cavalcante Dantas e Monsenhor Américo, deram grande contribuição para o desenvolvimento da UERN. Por isso, vejo esse título um reconhecimento à Igreja e seu clero, e em nome da Igreja, agradeço ao título”, declara.
O bispo lembrou que foi assim na Europa, mas também no Brasil. “A universidade é uma criação medieval embalada pelos sinos das igrejas”, frisou.
Ele fez um histórico da relação entre e igreja e universidade também no Rio Grande do Norte. “A academia surge com a missão de pensar a brasilidade partindo de contextos reais. Pode se verificar que a academia rompe com a resposta com o anseio dos jovens e a Igreja sempre abrigou a academia. Assim foi com a Faculdade de Serviço Social de Natal. Na terra de santa Luzia a UERN teve o apoio marcante dos nossos sacerdotes. Mais de um terço de nosso clero estava na fundação da então Universidade Regional do Rio Grande do Norte”, destacou.
O bispo não deixou de citar o trabalho do padre Sátiro Cavalcanti Dantas, ex-reitor, no processo de estadualização da UERN nos anos de 1986 e 87. “Ficará marcado na história da UERN o trabalho do nosso querido padre Sátiro Cavalcanti que foi fundamental para a estadualização da universidade”, acrescentou.
Ele destacou ainda o papel que a UERN desempenha na inclusão social no Rio Grande do Norte. “
DISCURSO DE AGRADECIMENTO À UERN
Magnífico
Reitor Professor Doutor Pedro Fernandes Ribeiro Neto,
Excelentíssima
Senhora Prefeita Doutora Rosalba Ciarlini Rosado,
Digníssimas
autoridades executivas, legislativas, judiciárias,
acadêmicas, culturais, militares e civis,
aqui presentes ou representadas,
Nobres
professores e servidores técnico-administrativos,
Distinto
corpo discente,
Senhoras
e senhores,
Segundo
os historiadores, a Academia nasceu à sombra dos mosteiros e conventos. Também
não foi diferente no Brasil. No dia 11 de agosto de 1827, o Imperador Dom Pedro
I assinou um decreto imperial, criando dois cursos de Direito: um em Olinda
(PE) e o outro em São Paulo (SP). A Faculdade de Olinda foi instalada no
Mosteiro de São Bento. Acredita-se que a
cidade pernambucana foi credenciada por conta do Seminário de Olinda, fundado
pelo bispo Azeredo Coutinho, em 1789, cuja excelência das disciplinas
ministradas sinalizava um esboço do ensino superior. A Faculdade de Direito
de São Paulo nasceu no Convento de São Francisco, no largo do mesmo nome, berço
de tantos luminares e renomados juristas. Até
então, nossos estudantes cruzavam o Atlântico para estudar na secular Universidade
de Coimbra. Por causa da independência, os brasileiros passaram a ser discriminados
pelos cidadãos da antiga metrópole.
A Universidade, criação medieval, nasceu embalada
pelo som dos sinos abaciais, enquanto síntese do divino e do profano, do
transcendente e do imanente, do douto e do popular. Não foi de outro modo no
Rio Grande do Norte e neste rincão de Santa Luzia. Despontara assim o ensino superior com o intuito de preservar
a nossa cultura, abrir horizontes e contribuir para a solidificação de nossa
verdadeira identidade. A Academia surge com a missão de pensar a brasilidade,
partindo de problemas reais, contextualizada num momento de hostilidade social
e política, bem como menosprezo ao nosso povo. Pode-se verificar que a Academia
irrompe como resposta aos anseios dos jovens e luz para uma nova sociedade.
A Igreja, de um modo ou de outro, sempre abrigou a
Academia. Nosso estado segue esta tradição. É importante enfatizar o pioneirismo
da Escola de Serviço Social de Natal, uma marca da Igreja. Em Caicó foi semelhante.
Ali, o Centro de Estudos Superiores do Seridó – CERES, órgão vinculado à
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN foi acolhido e instalado no
momento de sua criação pela diocese seridoense, no antigo prédio do Seminário
Cura d´Ars. Vale lembrar que na instalação daquela unidade da UFRN, a Igreja se
fez também presente na pessoa de uma religiosa e cinco sacerdotes concursados
como docentes, dentre os doze que compunham o clero diocesano da época.
Nesta Terra de Santa Luzia, a Universidade nasceu sob as
bênçãos de sua padroeira e da Igreja. A presença marcante de nossos presbíteros
foi decisiva para a criação da Fundação Universidade Regional do Rio Grande do
Norte, precursora da atual UERN. Não há como esquecer o professor João Batista
Cascudo Rodrigues e o prefeito Raimundo Soares de Sousa, que desde o primeiro
momento contaram com as bênçãos e o apoio marcante dos padres Sátiro, Américo,
Alfredo, Raimundo Gurgel, José Freire, Francisco Sales, Hamilcar e Alcir, José
Nobre, Edson Cabral e Raimundo Oswaldo. Mais de um terço de nosso clero estava
no nascedouro da Universidade Regional do Rio Grande do Norte e estão entre os
pioneiros desta importante instituição universitária, como docentes fundadores.
Ficarão gravados o brilho, o empenho e a dedicação de
nosso ícone maior da educação, o abnegado apóstolo do ensino de qualidade,
nosso querido Padre Sátiro Dantas Cavalcanti. Por seus esforços, enquanto
reitor, a UERN foi estadualizada e devidamente reconhecida pelo Ministério da
Educação pela Portaria Ministerial 874/93, posteriormente credenciada ex-vi do Decreto 24.748/2014, assinado
pela eminente mossoroense Dra. Rosalba Ciarlini Rosado, quando governadora do
estado e recredenciada recentemente pelo Decreto Nº 27.902/2018, como determinam
as normas vigentes.
A Universidade tem uma grande responsabilidade e seu
papel é relevante perante a sociedade. Importa citar dentre tantas realizações,
a formação dos educadores das instituições de ensino públicas e privadas, de
nível fundamental e médio deste estado. Os licenciados, diplomados pela UERN
atingem mais de oitenta por cento dos graduados que compõem a nominata dos professores listados em
processos que visam à autorização de cursos localizados no oeste potiguar e
tramitam na Secretaria de Estado da Educação e da Cultura e no egrégio Conselho
Estadual de Educação. É oportuno lembrar que os primeiros cursos de Medicina e
Odontologia, em cidades do interior do Rio Grande do Norte, longe da Capital,
foram criados e continuam ministrados pela UERN.
Dados do INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA e do FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA –
FBSP informam que, em 2017, ocorreram no Brasil mais de 60.000 homicídios,
estando os jovens entre as principais vítimas. Em cada dez pessoas assassinadas
no mundo, uma é brasileira. Dentre várias causas, os especialistas apontam a
baixa escolaridade. O OBSERVATÓRIO DA VIOLÊNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE – OBVIO
registrou, em 2017, neste estado, 2408 mortes oriundas de condutas letais intencionais,
das quais 90% são jovens. Neste cenário triste e desumano, surge a UERN como um
farol de esperança. No ano passado, ela diplomou cerca de 1.500 alunos,
tornando-os aptos à inserção no mercado de trabalho, contribuindo assim para
diminuir a nefasta estatística das mortes. É importante que isto seja
registrado. Segundo análises analizadas, o graduado de nível superior tem 40% a
menos de chance de ser vítima da violência. Cabe afirmar que a educação
torna-se um dos antídotos contra essa realidade deletéria.
A
Universidade deve ser a transmissora da ética e da liberdade. Liberdade para
pensar, criar, ensinar, criticar e construir. Não se pode esquecer que ela lida
com o saber. E este é livre. No entanto, procura-se, não raro, encarcerar a Academia nos grilhões das
ideologias e de outros interesses alheios à missão acadêmica. Já no Estado Novo,
ao ser promulgado o estatuto do magistério superior, afirmava-se a imprescindível
autonomia universitária, como expressão da liberdade. Ela é inarredável para
que possa exercer plenamente suas
funções e cumprir sua autêntica vocação. Autonomia entendida não como
privilégio ou soberania, e sim como prerrogativa de responsabilidade e
criatividade, independência e distância de tudo aquilo que busca manipular o
pensar e o saber.
A UERN foi pioneira na tarefa de interiorizar o ensino
superior. Já no ato de seu reconhecimento, há vinte e cinco anos, contava com Campi situados em Assú, Patu e Pau dos
Ferros, demonstrando compromisso com as comunidades mais distantes, sequiosas
do saber e do fazer. Vale enfatizar que a UERN, ao longo desses cinquenta anos
de história de educação, tem procurado ir até o povo. Vem provando a sua
responsabilidade social de Universidade para todos. Assim, a Igreja de Mossoró deseja
agradecer. E nosso agradecimento é proferido também em nome de todos os que
hoje são homenageados com diversas distinções.
Sabe-se
que a sociedade hodierna vive momentos de transformação decorrentes da
necessidade de compatibilizar ou mudar valores de uma ordem mundial em
transição, na chamada Era do Saber, da
Informação e Automação. Neste contexto, a Academia não é exceção. Há um
consenso sobre a importância da Universidade para o desenvolvimento de nosso
país, não obstante os custos das atividades relacionadas diretamente com a
produção do saber inovador. A visão de Universidade secular – à qual cabe
proteger o conhecimento, a ciência e a pesquisa – tem sido confrontada com outra.
E segundo ela, a Universidade seria uma instituição criada para atender às
demandas de uma sociedade impulsionada cada vez mais pela economia de mercado.
Mesmo diante de tais pressões, a UERN tem procurado exercer sua vocação
histórica e manter a liberdade de pensar e gerar novos conhecimentos, que lhe
são característicos. Assim, participa da efetiva melhoria da qualidade de vida
dos habitantes do oeste potiguar e parte de outras regiões norte-rio-grandenses.
O custo operacional das atividades da UERN e a crescente complexidade da
produção científica têm obrigado nossa Universidade a refletir sobre a
necessidade da elaboração de um novo projeto acadêmico, político e
administrativo para assegurar os recursos públicos, que garantam seu
funcionamento adequado e justo. Manter a identidade da Universidade – enquanto propicia
efetivamente saberes e desencadeia o desenvolvimento humano, social e econômico
– vem sendo o novo desafio da UERN.
Hoje,
pode-se verificar que as necessidades colocadas pela democratização do ensino,
em termos de investimentos expressivos em infraestrutura e recursos humanos, nem
sempre são atendidas em patamares adequados. É sabido que a UERN tem sido
chamada a promover a inclusão social, dialogar com o setor produtivo,
reformular grades curriculares, criar novos cursos, estreitar os laços com a
sociedade e participar mais ativamente do desenvolvimento humano, social e econômico.
Percebe-se, portanto, que esta Universidade tem se deparado com diferentes
demandas e isso a tem forçado a repensar e redefinir o seu papel, em busca de
um modelo que dê conta de sua missão e das expectativas da sociedade. E aqui, queremos
como pastor estender a mão da Igreja. Hoje, tentamos também responder a estes
desafios e problemas por meio de nossa querida Faculdade Católica do Rio Grande
do Norte. E deste modo, de mãos dadas, possamos firmar uma parceria frutífera,
em que se pensam o homem e a sociedade.
O
título que agora recebemos é acima de tudo uma homenagem à Igreja e ao clero
mossoroense. A eles dedicamos esta honraria em reconhecimento ao seu empenho em
prol da vida acadêmica e universitária. Queremos mais uma vez expressar nosso
agradecimento, não somente o meu, mas o de todos os agraciados hoje com as
honrarias e distinções acadêmicas. O título concedido é a proclamação da
partilha dos sonhos e desejos, dos projetos e realizações desse marco da
Educação potiguar: a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Muito
obrigado. Deus abençoe a todos e Santa Luzia ilumine a caminhada da UERN.
Mossoró, 28 de setembro de 2018.
Dom Mariano Manzana
Bispo Diocsano
Fonte- UERN