Três franciscanos, o primeiro afro-americano, um sobrevivente de genocídio e o bispo de um país onde evangelizar é proibido. Essas são algumas características dos novos cardeais do Papa Francisco, anunciados no domingo, 25. Em 28 de novembro, será realizado o próximo consistório, ou seja, a reunião dos cardeais presentes em Roma com o Papa.
Serão criados 13 novos cardeais eleitores, com menos de 80 anos e que poderiam eleger o futuro Papa. Além deles, outros quatro clérigos não eleitores serão admitidos em gesto de reconhecimento pelo serviço à Igreja.
Bispos de grandes dioceses
À frente da Arquidiocese de Washington dos Estados Unidos desde 2019, Dom Wilton D. Gregory é o primeiro negro americano a se tornar cardeal. Sua nomeação é particularmente importante num momento em que o país vive onda de protestos pela questão racial. Ele também foi Arcebispo de Atlanta, bispo auxiliar de Chicago e presidente da conferência episcopal americana.
Outro arcebispo de destaque é o de Santiago do Chile, Dom Celestino Aós Braco, capuchinho espanhol radicado no Chile. Foi bispo de Copiapó e, ao mesmo tempo, administrador apostólico de Santiago. Ganhou a confiança do Papa ao liderar a Igreja chilena no período da crise dos abusos, mas também na atual fase de protestos pela reforma constitucional.
Líderes da Cúria e italianos
Dois nomes são de bispos que acabam de assumir cargos no Vaticano. O primeiro é o novo Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, o italiano Dom Marcello Semeraro. Ele trabalhou no conselho de cardeais e foi Bispo de Albano (Itália).
O outro é o Secretário-geral do Sínodo dos Bispos, Dom Mario Grech (Malta), com a missão de abrir as portas do Vaticano para a Igreja de todo o mundo.
Mais dois dos novos cardeais são italianos. Um é o Arcebispo de Siena, Dom Augusto Paolo Lajudice, que foi bispo auxiliar em Roma e é responsável pela comissão sobre migrações da Conferência Episcopal Italiana (CEI).
Outro é o Frei Mauro Gambetti, até então responsável pela comunidade franciscana na cidade de Assis. Como ele está terminando seu mandato, especula-se que venha a assumir um dicastério na Cúria Romana. Por ser padre, deve receber a ordenação episcopal, conforme as normas da Igreja.
Líderes internacionais
O neo-cardeal Dom Antoine Kambanda, Arcebispo de Kigali (Ruanda), representa uma igreja sofrida. Ainda é recente o chamado “genocídio de Ruanda”, dos anos 1990, no qual estima-se que 1 milhão de pessoas tenham sido mortas por disputas étnicas e políticas. Ele perdeu toda a sua família, exceto um irmão. Foi ordenado por São João Paulo II.
Outra situação dramática é a de Dom Cornelius Sim, o único bispo de Brunei. O país é oficialmente muçulmano e a religião é lei. Só 10% da população é católica, a maioria descendente de filipinos e chineses, e a evangelização é proibida.
O terceiro líder internacional nessa lista é Dom José Advincula, Arcebispo de Capiz (Filipinas). Ele passa a ser a principal referência da igreja no seu país, já que o famoso Cardeal Antonio Tagle há pouco assumiu um dicastério no Vaticano.
Reconhecido merecimento
Os quatro clérigos com mais de 80 anos escolhidos pelo Papa passam a ser membros do colégio cardinalício e adquirem essa dignidade, mas não podem votar em um eventual conclave.
O mais famoso deles é o Frei Raniero Cantalamessa, de 86 anos, pregador da Casa Pontifícia desde os anos 1980 e autor de livros espirituais. Foi nomeado por São João Paulo II e confirmado por Bento XVI e Francisco. Ele prega na cerimônia da Sexta-feira da Paixão e em outras ocasiões. Capuchinho, ele é muito admirado pelos membros da Renovação Carismática Católica.
Os outros três são o Arcebispo Dom Silvano Tomasi, scalabriniano que por 13 anos foi observador da Santa Sé na ONU; o bispo emérito de San Cristóbal de las Casas (México), Dom Felipe Arizmendi Esquivel; e o Monsenhor Enrico Feroci, que por quase 10 anos foi diretor da Cáritas de Roma.
Também Cantalamessa e Feroci, que ainda não são bispos, teoricamente deveriam ser ordenados. Mas é comum que os nomeados após 80 anos peçam dispensa dessa obrigação e continuem servindo como sacerdotes.
Fonte- Vatican News