“Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos” (Gal 6, 9-10a). Com esta exortação de São Paulo aos Gálatas, o Papa Francisco inicia sua mensagem para a Quaresma 2022. O texto foi divulgado nesta quinta-feira, 24, em coletiva de imprensa.
O Pontífice ressalta que a quaresma é um tempo favorável de renovação pessoal e comunitária que conduz à Páscoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado. O Santo Padre pede que todos aproveitem o caminho quaresmal de 2022 para refletir.
Sementeira
No trecho bíblico destacado pelo Papa, São Paulo evoca a sementeira e a colheita, uma imagem que Jesus muito prezava (cf. Mt 13). São Paulo fala de um kairós: um tempo propício para semear o bem tendo em vista uma colheita.
“Qual poderá ser para nós este tempo favorável?”, questiona Francisco. “Certamente é a Quaresma (…). A Quaresma convida-nos à conversão, a mudar mentalidade, de tal modo que a vida encontre a sua verdade e beleza menos no possuir do que no doar, menos no acumular do que no semear o bem e partilhá-lo”.
Segundo o Pontífice durante a Quaresma, todos são chamados a responder ao dom de Deus, acolhendo a sua Palavra. A escuta assídua da Palavra de Deus, prossegue, faz maturar uma pronta docilidade à sua ação (cf. Tg 1, 19.21), que torna fecunda a vida.
Todos são chamados para serem “cooperadores de Deus” (1 Cor 3, 9), aproveitando o tempo presente (cf. Ef 5, 16) para semearem, praticando o bem, indica o Santo Padre. Esta chamada para semear o bem deve ser vista, não como um peso, mas como uma graça, reafirma.
Colheita
Sobre a colheita, Francisco lembra São Paulo destaca que quem pouco semeia, também pouco há de colher; mas quem semeia com generosidade, com generosidade também colherá. Em Deus, o Papa indica que nenhum ato de amor, por mais pequeno que seja, se perde.
“É precisamente semeando para o bem do próximo que participamos na magnanimidade de Deus. (…) Semear o bem para os outros liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus”, frisa.
“Não nos cansemos de fazer o bem”
Deus “dá forças ao cansado e enche de vigor o fraco. (…) Aqueles que confiam no Senhor, renovam as suas forças” (Is 40, 29.31). A Quaresma, de acordo com o Santo Padre, chama os fiéis a repor a fé e esperança no Senhor. Só com o olhar fixo em Jesus Cristo, revela o Pontífice, é que se pode acolher a exortação do Apóstolo: “Não nos cansemos de fazer o bem” (Gal 6, 9).
O Papa pediu também que os católicos não se cansem de rezar. “A ilusão de nos bastar a nós mesmos é perigosa”, alerta. A fé, segundo Francisco, não preserva das tribulações da vida, mas permite atravessá-las unidos a Deus em Cristo, com a grande esperança que não desilude.
O Pontífice reforça: “Não nos cansemos de extirpar o mal da nossa vida. Possa o jejum corporal, a que nos chama a Quaresma, fortalecer o nosso espírito para o combate contra o pecado. Não nos cansemos de pedir perdão no sacramento da Penitência e Reconciliação, sabendo que Deus nunca Se cansa de perdoar. Não nos cansemos de combater a concupiscência, fragilidade esta que inclina para o egoísmo e todo o mal”.
A Quaresma é tempo propício para contrastar ciladas, comenta o Santo Padre. Ele exorta: “Não nos cansemos de fazer o bem, através de uma operosa caridade para com o próximo. Durante esta Quaresma, exercitemo-nos na prática da esmola, dando com alegria (cf. 2 Cor 9, 7)”.
“Se é verdade que toda a nossa vida é tempo para semear o bem, aproveitemos de modo particular esta Quaresma para cuidar de quem está próximo de nós, para nos aproximarmos dos irmãos e irmãs que se encontram feridos na margem da estrada da vida (cf. Lc 10, 25-37). A Quaresma é tempo propício para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão. Acolhamos o apelo a praticar o bem para com todos”.
Constância e paciência
Por fim, o Papa exorta os fiéis a pedirem a Deus a constância paciente do agricultor (cf. Tg 5, 7), para não desistirem da prática do bem. Quem cai, estenda a mão ao Pai que nos levanta sempre. Quem se extraviou, enganado pelas seduções do maligno, não demore a voltar para Deus, incentiva.
“Neste tempo de conversão, buscando apoio na graça divina e na comunhão da Igreja, não nos cansemos de semear o bem. O jejum prepara o terreno, a oração rega, a caridade fecunda-o. Na fé, temos a certeza de que ‘a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido’, e obteremos, com o dom da perseverança, os bens prometidos (cf. Heb 10, 36) para salvação nossa e do próximo (cf. 1 Tm 4, 16)”.