Vigário- Pe Possidio Lopes
Com uma programação vasta e bem elaborada, visto que contempla tanto a dimensão espiritual quanto a profana, a cidade comemora os 100 anos do Apostolado da Oração, alegrando-se com benfazejo orgulho e vaidade saudável a trajetória de uma instituição da qual fizeram parte, só para citar três integrantes do meu imaginário afetivo, pessoas de sempre presente e agradável lembrança, falo de Da. Sebastiana Lopes, Da. Elita Nunes dos Santos e tia Mariinha Tavares. O Apostolado da Oração, dedicado ao Coração de Jesus, foi fundado pelo Pe. João da Cruz, em 18 de junho de 1909, com o objetivo de fortalecer a fé e a devoção de senhoras praticantes do catolicismo. Da congregação fundante é obrigatório evocar os nomes de abnegadas senhoras envolvidas nos trabalhos junto à Paróquia de Na. Sra. das Dores: Clorinda Cortez, Antônia Hozana, Mônica Francelina de Moura, Sinhá Professora, Sancha Almeida, Ana Almeida...tantos nomes que escondem vidas anônimas, mas que tiveram tamanha importância para a comunidade, num espaço e num tempo que já se distancia e se perde na marcha de Cronos em direção a um futuro que não divisamos maiores expectativas de qualidade. Por isso, para que não se esqueça e passe em brancas nuvens, para que sirva de pão às nossas demandas de religiosidade, de ética e compromisso para com nossos semelhantes em sociedade, para que aplaque nossos espaços psicológicos de estética e de ludismo, para, enfim, despertar e vivificar a dimensão melhor que o humano tem, com suas possibilidades de convívio harmônico com o outro e edificar algo para legar ao futuro, é que se faz necessário tantas horas dedicadas aos rituais de rememoração com o objetivo de sedimentar ou fortalecer signos e imagens alimentadores do imaginário das gentes do sertão. É consabida a tradição católica do povo de Patu; não à toa, é lá que se encontra edificado um dos mais belos templos em estilo neo-gótico de todo o alto-oeste do Estado, bem como o Santuário de Na. Sra. do Impossíveis, num dos contrafortes da Serra de Patu, lugar de romarias e de grandes festas de peregrinos em busca de pagar promessas. Houve um tempo de grande ebulição e fervor religioso, capitaneados pelos sacerdotes missionários da Sagrada Família, e que se manifestavam através de movimentos como a Cruzada Eucarística Infantil (09.08.1942), com mais de 100 crianças, entoando louvores e cantos juntos com as mulheres do Sagrado Coração de Jesus; havia também a Liga Jesus, Maria, José, tendo à frente meu querido Tio Chichico (nos anos 40), constituída apenas por homens. Não há como esquecer a passagem da Sa. Clotildes Carlos Godeiro (início: 07.05.1943), tendo ficado à frente, como presidente do Apostolado, durante mais de 50 anos, desempenhando com responsabilidade e desprendimento as tarefas exigidas por seu cargo, hoje ocupado por sua filha, a simpática Sra. Nadir Godeiro, exemplo de beleza física e tenacidade metafísica diante das indomáveis forças do destino. De outra parte, salientamos algo muito curioso, que é o fato das comunidades religiosas de Messias Targino, Almino Afonso, Rafael Godeiro e Olho d’água do Borges, cidades circunvizinhas, intercambiarem experiências com o Apostolado da Oração de Patu, demonstrando a importância de uma instituição com inesquecíveis serviços prestados aos praticantes de uma religião.
Por Márcio de Lima Dantas, professor da UFRN