A Arquidiocese de Natal, por seu representante legal e canônico, Arcebispo
Metropolitano de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, frente à onda de violência
perpetrada, na capital e no interior potiguar, contra a ordem pública e a paz social, vem,
por esta, manifestar sua preocupação e sua solidariedade às famílias, à classe
trabalhadora e empresária, e à população em geral, bem como às autoridades
constituídas, que nas últimas horas têm sido vítimas desses horrendos atos.
Conclamamos a todos a não revidarmos a esses atos de violência com mais
violência, pois esta nunca constitui uma resposta justa. A Igreja proclama, com a
convicção da sua fé em Cristo e com a consciência de sua missão, “que a violência é
má, que a violência como solução para os problemas é inaceitável, que a violência é
indigna do homem. A violência é uma mentira, pois é contrária à verdade da nossa fé, à
verdade de nossa humanidade. A violência destrói o que ambiciona defender: a
dignidade, a vida, a liberdade dos seres humanos” (Compêndio da Doutrina Social da
Igreja, 496).
Urge uma reação de todos nós fundada nos valores da fé que professamos, bem
como no desejo do império da justiça e da paz social. Ninguém deve ficar indiferente à
tão grave crise que se abateu na Segurança em nosso Estado. Ficar e permanecer
indiferentes, acuados ou reféns de atos de violência ou do medo, além de favorecer seus
autores, dar-lhes a oportunidade de continuarem usurpando dos direitos e deveres do
Estado democrático de direito, fundamento último da democracia e da cidadania de cada
um de nós.
O momento nos impõe o dever de união de todos os homens e mulheres de boa
vontade, especialmente dos que estão investidos de alguma autoridade, da classe
política, dos trabalhadores e empresários, incluindo a sociedade civil organizada. Juntos,
podemos construir um ambiente propício à promoção da justiça e da paz social. Em um
clima difuso de concórdia e de respeito à justiça, poderá amadurecer uma autêntica
cultura de paz” (CDSI, 495).
Com esse sentimento, nos colocamos à disposição da sociedade em geral e dos
poderes constituídos, para, juntos, de coração aberto à promoção da justiça e da paz
social, mediarmos alternativas de soluções capazes de por fim às incertezas, à
insegurança e aos conflitos que tanto têm afligido e gerado pânico na vida da sociedade
potiguar. Nossa disposição se estende, ainda, ao desejo de engajamento na importante e indispensável reflexão em torno da elaboração e desenvolvimento de políticas públicas
que pensem o bem da pessoa humana em sua integralidade, notadamente no que se
refere ao sistema carcerário brasileiro, incluindo as medidas socioeducativas que, há
tempo, tem dado sinais de sua ineficiência e inadequação e, em tantos casos, mostra
clara de desrespeito aos direitos e dignidade da pessoa.
Fundado nos princípios da Caridade e da Verdade que emanam da Boa Nova de
Jesus Cristo, que nos libertam e salvam (cf. Jo 8,32), e sobre os quais assentamos a
condução de nossa Missão frente ao Rebanho de Jesus Cristo a mim confiado neste
chão potiguar, banhado pelo sangue dos protomártires do Brasil, rogamos ao Senhor
que nos ilumine e que nos favoreça com suas bênçãos e proteção, na defesa
intransigente da vida e da dignidade humana de todos os irmãos e irmãs.
Irmanados no Senhor, invoco, sobre todos, uma especial bênção.
Natal, 30 de julho de 2016.
Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo Metropolitano de Natal