Quando falamos do dízimo devemos, antes de tudo,
fazer referência à Palavra de Deus, onde encontramos o fundamento desta prática
milenar. Mas não é suficiente apenas citar textos bíblicos que falam do dízimo,
é necessário situá-lo num contexto mais amplo, inserindo-o na teologia do Novo
Testamento sobre o primado do Reino de Deus e o Senhorio de Cristo. Assim,
descobriremos que, antes de tudo, o dízimo é um ato de adoração, no qual se
expressa a centralidade de Deus em nossas vidas. Kierkegaard, um filósofo
cristão, com razão definiu a adoração como o movimento do coração, através do
qual o homem expressa que Deus é tudo para ele.
Segundo o desígnio de Deus, os bens não são
propriedades nossas de modo absoluto, pois à medida que proclamamos que Ele é o
Senhor de nossas vidas, estamos afirmando que tudo o que possuímos, em última
instância, pertence a Ele. Somos seus servos em nosso ser e em nossa vida e
somos administradores dos bens. Tudo é dEle, porém Ele nos permite usar as
coisas “como se fossem nossas”. No entanto, não podemos nos esquecer que é
necessário usá-las de acordo com as suas normas.
Isto supõe três atitudes: primeiro devemos moldar a
nossa conduta sempre pela honestidade, pois esta é uma exigência básica do
testemunho cristão. Em segundo lugar, é necessário estarmos abertos às
exigências da caridade fraterna e da defesa da justiça, pois um princípio
elementar do ensino social da Igreja é o destino universal dos bens: “Deus
destinou todos os bens a todos os homens”. Em terceiro lugar, devemos honrar a
Deus com o nosso dízimo e nossas ofertas, como expressão de adoração e
proclamação de que Ele é o Senhor e dono de tudo o que somos e possuímos.
Certamente, isto pode nos parecer difícil, mas é
profundamente libertador, visto que um grande mal que nos impede de sermos
livres é o apego às coisas materiais. Principalmente numa sociedade consumista
como a nossa, em que as pessoas muitas vezes passam a viver tendo como único
objetivo na vida a busca do ter. O ser
humano tem uma vocação muito mais sublime do que simplesmente viver em função
dos bens. Aqui podemos usar o mesmo princípio que Jesus usou acerca do sábado,
transpondo-o para os bens materiais: “Os bens foram feitos para o homem e não o
homem para os bens”.
Esta consciência, vivida numa perspectiva eclesial,
nos leva a um tipo de participação em que o econômico também expressa o nosso
compromisso com a vida em comunidade. Neste sentido, constatamos com alegria a
frutuosa caminhada da pastoral do dízimo em nossa Diocese. Que este mês de setembro,
dedicado à conscientização do dízimo, possa fortalecer ainda mais em nós esta
consciência, para que possamos adorar a Deus também através de nossas posses e
com um sentido profundo de pertença, de co-responsabilidade e de participação
eclesial.
Pe. Djalma Lopes
Siqueira
Professor de
Teologia Pastoral e Missiologia no ITEFIST
Pároco da Igreja
Nossa Senhora do Bonsucesso – Monteiro Lobato