Pular para o conteúdo principal

Reflexão Para o XXIV Domingo do Tempo Comum – Lucas 15,1-32 (ANO C)




O Evangelho deste XXIV Domingo do Tempo Comum, composto de três parábolas, continua situando-nos no longo caminho de Jesus com seus discípulos para Jerusalém, oportunidade que Ele aproveita para reforçar a sua catequese, deixando claras quais as características do seu Deus. Após apresentar as exigências necessárias para quem quer entrar no seu discipulado, como refletimos no domingo passado (cf. Lc 14,25-33), hoje Ele nos convida a conhecer o rosto do seu Deus, o qual, mais que uma divindade, é, sobretudo, um Pai.

Além de constituir-se como um dos principais conteúdos de sua catequese para os discípulos e discípulas que o seguem, a mensagem do ensinamento de Jesus nas três parábolas oferecidas pela liturgia de hoje, é também uma bem elaborada resposta à concepção equivocada de Deus da parte dos grupos religiosos predominantes na sua época, os fariseus e os mestres da lei.

Chamadas de ‘parábolas da misericórdia’, estas contêm o núcleo básico e essencial do ensinamento de Jesus: o amor e a misericórdia do Pai. Por isso, não exageram os biblistas quando dizem que esse trecho é como se fosse “o Evangelho do Evangelho”. É claro que a ênfase maior vai para a terceira parábola (vv. 11-32), aquela do “Pai misericordioso”, equivocadamente chamada do “Filho Pródigo”. Essa é, sem dúvida, a mais lida, citada e estudada de todas as parábolas do Novo Testamento. As duas que a precedem tem a função didática de prepará-la: a da ovelha perdida e reencontrada (vv. 3-7) e a da moeda perdida e reencontrada (vv. 8-10).

Para uma boa compreensão das três parábolas, é importante perceber a introdução apresentada nos dois primeiros versículos, pois é daí que conhecemos o contexto e os destinatários das mesmas. O contexto é o de mais um encontro de Jesus com os publicanos e pecadores, cena comum no Evangelho de Lucas (cf. Lc 5,30; 7,34). Esses, publicanos e pecadores, “aproximavam-se de Jesus para escutá-lo” (v. 1), certamente porque encontravam acolhida e compreensão. Como classes rejeitadas social e religiosamente, admiravam-se porque tinham encontrado alguém que os acolhia sem discriminações. É claro que isso comprometia a reputação de Jesus, principalmente perante os líderes religiosos, considerados justos, como os fariseus e os mestres da lei, os quais o "criticavam". Na verdade, ao invés de criticar, o texto grego traz o verbodiago,gguzw – (diagongyzu) – que significa murmurar, o que que quer dizer protestar, levanter-se contra, e isso é muito mais que uma simples critica. Portanto, os fariseus e os mestres da lei protestavam contra Jesus devido o seu comportamento herético, pois além de acolher os pecadores ainda sentava com eles para comer.

Assim, identificamos, obviamente, que são os fariseus e os mestres da lei os destinatários das chamadas parábolas da misericórdia. Logo, muito mais que persuadir pecadores para a conversão, estas parábolas tem a função de abrir a mente dos que se consideram justos, chamando-os a uma nova concepção sobre Deus. Jesus quer mostrar que o Deus, seu Pai, não age conforme o receituário da religião.

As duas primeiras palavras, como já afirmamos anteriormente, tem a função didática de preparar a terceira, mas nem por isso são privadas de valor. Ambas construídas a partir do trinômio “perda-reencontro-festa”, enfatizam a misericórdia de Deus que não aceita que nenhum dos seus filhos se perca e, por isso, busca-os constantemente. Na primeira, da ovelha perdida, nos deparamos com categorias bastante comuns da Escritura hebraica, como pastor, ovelha rebanho (cf. Ez 18,23; Jer 24,7). O amor de Deus pelos seus, apresentam uma dimensão importante da conversão. Um dado que passa quase despercebido, mas muito relevante, é apresentado no versículo quarto: o pastor verdadeiro arrisca a vida das noventa e nove, por amor àquela que se perdeu; ele não espera protegê-las no curral para depois sair em busca daquela perdida; deixa-as no deserto, expostas ao perigo de feras e assaltantes e não descansa enquanto não resgata a única que se perdeu. Essa é uma das características do Deus-Pai que Jesus revela, para o qual as pessoas piedosas da sua época se fecharam.

Na segunda, a grande inovação é o fato de Deus ser apresentado com uma figura feminina. Construídas-as em perfeita simetria, ambas justificam o comportamento de Jesus ao acolher pecadores e publicanos e até sentar-se com eles à mesa. Fazer refeição juntos é fazer comunhão, é dar e receber. Essa era uma ferramenta importante para conhecer em profundidade e deixar-se conhecer. E, ao deixar-se conhecer Jesus conquistava as pessoas, sobretudo aquelas que sentiam-se excluídas e rejeitadas social e religiosamente. Foi para estas que Ele veio ao mundo. Por isso, Ele enfatiza o aspecto festivo que marca o reencontro com o que parecia perdido.

A terceira parábola (vv. 11-32), chamada equivocadamente de “Parábola do filho pródigo”, é a obra prima de Lucas. Na verdade, é muito mais justo o título de “Parábola do Pai bondoso ou misericordioso”, como tem sido chamada nos últimos anos. De fato, é o “Pai” que está no centro do ensinamento a partir da relação entre o pai e os dois filhos. Como se trata de um ensinamento dirigido aos considerados justos, fariseus e mestres da lei, a parábola apresenta com ênfase a misericórdia do Pai, e não um modelo de convertido, como erroneamente já se apresentou o filho mais novo como modelo de conversão.

“Um pai tinha dois filhos” (v. 11), mas nenhum dos dois tinha experimentado o amor desse pai. Ambos o viam mais como um patrão, a ponto de um deles não mais o suportar e pedir a parte da herança devida, no caso, um terço dos bens, já que era o filho mais novo. Para a cultura judaica, quando um filho pedia a herança com o pai ainda vivo, era como se o estivesse matando e ao mesmo tempo morrendo: a relação entre os dois estava completamente acabada. A sua partida para um lugar distante (v. 13) confirma isso ainda mais. Aos poucos, à medida que esbanja os bens, vem a decadência, e torna-se praticamente escravo de um estrangeiro a ponto de submeter-se ao pior dos trabalhos para um judeu: cuidar de porcos (v. 15). Essa situação de humilhação leva-lhe a uma reflexão, mas não a uma conversão, ao contrário do que dizem as interpretações tradicionais. De fato, sua fala não mostra sinal de conversão: “Quantos empregados do meu Pai têm pão com fartura e eu aqui morrendo de fome” (v. 17). Como se vê, as motivações foram meramente materiais, ou seja, ele sentiu falta da mesa farta, e não do amor do pai. Mas, a certeza da fartura na casa do pai foi o suficiente para tomar a firme decisão de voltar e pedir para ser tratado, pelo menos, como empregado.

Certamente, a conversão aconteceu, não tenhamos dúvida. Mas, aconteceu com a acolhida que o Pai lhe proporcionou, com o sentimento de compaixão, próprio de Deus, e o abraço seguido de beijos (v. 20) e, por fim, a restituição dos bens e da dignidade de filho, através da imagem da túnica, anel e sandália (v. 22). Destes sinais, o mais significativo é o anel, pois mais que adorno, era o sinal da confiança resgatada, pois o mesmo dava autoridade para gerenciar negócios em nome do pai. Com tanto amor demonstrado, não tem como pensar que não houve conversão. Mas é interessante perceber a conversão como resposta ao acolhimento, pois na primeira motivação do filho, o interesse estava apenas na mesa farta.

O filho mais velho, guardião da moral e dos bons costumes, obediente ao extremo, entra em cena exatamente no momento em que a festa acontece (vv. 25-30). Sente-se escandalizado e até traído pelo pai, por acolher um filho errante com festa, enquanto ele, sempre fiel, jamais teve direito a fazer qualquer comemoração com seus amigos. Esse é tão fechado em si, tem uma ideia tão distorcida do pai, a ponto de nem considerar o outro como irmão; simplesmente diz ao pai: “esse teu filho” (v. 30). É esse o comportamento de Israel fechado em si, que insiste em manter uma caricatura de Deus, desconhecendo a beleza do Deus que Jesus apresenta, um Pai cheio de amor e misericórdia.

Muitas leituras podem ser feitas a partir dessa parábola. Considerando os destinatários imediatos e a perspectiva universalista de toda a obra de Lucas (Evangelho e Atos dos Apóstolos), a leitura mais sensata, a qual tem prevalecido nos estudos mais recentes, é a representação da relação tensa entre judeus e pagãos no cristianismo das origens. O filho mais velho representa os judeus fechados em si, e o mais novo, os pagãos, os quais são acolhidos no novo povo de Deus, a Igreja, sem nenhuma distinção.


Pe. Francisco Cornelio Freire Rodrigues

Postagens mais visitadas deste blog

Horários de Missas nas Paróquias de Mossoró

  As missas presenciais na Catedral de Santa Luzia em Mossoró serão retomadas a partir do próximo domingo, dia 16 de agosto. . A partir deste domingo, os fiéis terão 05 horários disponíveis de missa: às 6h, 9h, 11h, 17h (novo) e 19h. As celebrações de segunda a sexta-feira permanecem às 17h. . Não haverá marcação prévia de lugares, sendo o acesso por ordem de chegada, respeitando o limite de 30% de  ocupação, neste mês de agosto. Em setembro, segundo Decreto Municipal, sobe para 50%. Uma Equipe de Acolhida da Catedral vai estar na porta orientando a entrada. . O Decreto da Província Eclesiástica do RN prevê que crianças menores de 10 anos, adultos maiores de 60 e pessoas do grupo de risco devem aguardar mais um pouco, acompanhando pelas redes sociais. A reabertura da Catedral segue o Plano de Reabertura Gradual das Igrejas Católicas no RN com respeito às normas de segurança em prevenção ao Coronavírus. Paróquia São Paulo Paróquia Sagrada Família no Trinta de Setembro em Mossoró Paróqui

Programação da Festa de Santa Luzia 2023

    Festa de Santa Luzia 2023 01 a 13 DEZEMBRO Tema:  Luz na missão PROGRAMAÇÃO GERAL   PRÉ – FESTA PEREGRINAÇÃO 28.09 a 01.12   MANHÃ DA LUZ 27.10 – 5h30 Local: Parque Municipal   TARDEZINHA DA LUZ 28.10 – 16h Local: Colégio Diocesano Santa Luzia     VIII JOGOS DE SANTA LUZIA 06.11 a 12.12 - Futsal Masculino 06 a 24 de novembro - Carecão Diocesano - Tênis de mesa 11 e 12 de novembro - Ginásio Pedro Ciarlini - Vôlei de Areia 19 e 26 de novembro - Arena Relativa MultSport - Vôlei Indoor 02 e 03 de dezembro - Mater Christi - Beach Tennis - 14 a 17 de dezembro - Clube Wbt   LOJINHA DE SANTA LUZIA 12.11 a 13.12 Local: Largo Monsenhor Huberto (lateral da Catedral) 12.11 a 30.11 – 08h/11h30 e 13h30/17h30 (segunda à sexta)                           08h e 12h (sábado) 01.12 a 13.12 – 07h as 22h   CENTRO DIOCESANO DE MEMÓRIAS - C.D.M 02 a 12 de dezembro. De Segunda a Sexta-feira: 07:30 às 11:30 horas. Sábado e Domingo:

Dom Francisco chega ao território da Diocese nesta sexta-feira: posse será sábado

  O sétimo bispo da Diocese de Mossoró, o carmelita Dom Francisco de Sales Alencar Batista, tomará posse no próximo sábado, dia 17, no adro da Catedral de Santa Luzia. A programação iniciará às 17h, após uma bonita procissão vinda do Santuário do Sagrado Coração de Jesus com Dom Francisco, Dom Mariano Manzana, bispo Emérito, mais de vinte bispos, cerca de cem padres, diáconos e seminaristas . O novo pastor será acolhido na praça da Catedral pelos familiares, autoridades, convidados e a comunidade em geral.   Dom Francisco entrará no território da Diocese de Santa Luzia de Mossoró na sexta-feira, dia 16, a partir das 8h, pela Paróquia de Luís Gomes, fazendo uma saudação a Senhora Santana (avó de Jesus e padroeira da cidade) e sendo acolhido pelo povo . De lá, ele segue para as Paróquias de José da Penha, Pau dos Ferros, São Francisco do Oeste, Itaú e pernoit a na Paróquia de Apodi. Serão momentos de oração e saudação a Dom Francisco pelos padres das respectivas paróquias e povo d