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A relação entre Eucaristia, Igreja e Sociedade na Festa de Corpus Christi


A festa de Corpus Christi tem origem na devoção eucarística da Idade Média, no contexto de controvérsias com Berengário de Tours (1000-1088), que negava a presença real de Cristo nas espécies consagradas. Essa celebração foi um meio de afirmar a presença real de forma pública, e o papa Urbano IV a estendeu para toda a Igreja em 1264. O elemento apologético que motivou a afirmação da festa de Corpus Christi manifestou também limitações no seu conteúdo: a atenção à presença real se deu, em muitos ambientes, independente da compreensão do mistério eucarístico total. Isso se afirmou ainda mais no contexto das polêmicas teológicas com os protestantes, a partir do século XVI.
Esse limite é superado com a reforma do Vaticano II, que dá um nome mais completo à solenidade, mencionando também o “sangue de Cristo”, e garante maior fundamentação bíblica, apresentando uma visão ampla do mistério total de Cristo.
A presença real de Cristo na Eucaristia é compreendida e crida a partir da e na celebração da missa, prolongando-se também depois, na procissão como adoração pública. Essa procissão, de origem anterior ao século XIII, expressa de modo solene o culto da Eucaristia fora da missa. Na procissão, o fiel dá testemunho público da sua fé e sua piedade para com o sacramento eucarístico, com alguns elementos fundamentais: celebrando as maravilhas de Deus que a Eucaristia significa, como mistério pascal; incentivando a participação do sacrifício eucarístico; assumindo ter uma vivência eucarística; reconhecendo e adorando a presença de Cristo na Eucaristia; rendendo graças a Deus pelos dons recebidos pelo sacramento da Eucaristia.
Eucaristia e Igreja
A festa de Corpus Christi é uma festa da comunidade eclesial, que nasce da Eucaristia e nela se sustenta. Eucaristia e Igreja são realidades que se vinculam intrinsecamente. A Eucaristia faz a Igreja no mesmo ato em que a Igreja celebra a Eucaristia. Nessa celebração a Igreja torna-se aquilo que é: “corpo de Cristo” (1 Cor 10, 17). O evento pascal celebrado se faz Igreja, e nele a Igreja realiza em plenitude o seu ser e a sua missão. A Igreja é, assim, o lugar e o modo da presença de Cristo na vida cristã. E a Eucaristia é o sacramento da Igreja, sacramento do dom total que Cristo faz de si mesmo aos seus discípulos e discípulas.
Isto significa que quem comunga do corpo e do sangue de Cristo e o testemunha publicamente (como na procissão com o Corpo e o Sangue do Senhor) torna-se, com a Igreja, realidade/pessoa eucarística, e faz com que a sociedade como um todo possa viver daquilo que a Eucaristia significa: Mistério de Deus que se revela em Cristo, realidade pascal, graça sacramental que tudo transforma conforme o desígnio de Deus. A realidade eucarística penetra na vida da Igreja, dos cristãos e da sociedade. E esses penetram na realidade de Cristo. A celebração eucarística transcende, assim, o tempo da Igreja, prefigurando a realidade última na qual Deus em Cristo se torna “tudo em todos” (1 Cor 15,28), na realização do seu Reino.
Por isso, Eucaristia é unidade, comunhão. A comunhão de uma assembleia eucarística com as outras está na fé com a qual todas celebram o mesmo memorial; está no fato de que todas, comendo do mesmo pão e bebendo do mesmo cálice, tornam-se o mesmo e único corpo de Cristo. Na multiplicidade de formas, tempos e lugares, há um só mistério celebrado e participado. Também na multiplicidade de comunidades eucarísticas há uma só Igreja.
Comunhão é uma realidade própria de Deus e da Igreja. A Eucaristia revela o mistério trinitário da Igreja. Por ela a Igreja rende graças ao Pai, fazendo memória do sacrifício do Filho, na comunhão com o Espírito. Nesse ato, a comunhão trinitária é comunicada à comunidade eclesial. A Trindade torna-se modelo da Igreja, uma perfeita unidade no amor de pessoas diferentes. Como Deus é comunhão de três pessoas, a Igreja é uma comunhão de muitas pessoas de várias comunidades. Como todos se alimentam de um só pão e um só cálice, formam um só corpo de Cristo, na pluralidade dos membros (1 Cor 10, 15-17; 12, 12s). O desafio é entender que a unidade/comunhão dos muitos, centrada na Eucaristia, não exclui a pluralidade. Ao contrário, a unidade supõe a diversidade, transcendendo-a na comunhão. Tal como Cristo é um para muitos, assim na Igreja, seu corpo, o um e os muitos, o universal e o local, são simultâneos. A Igreja una e única identifica-se com a comunhão das Igrejas. Unidade e multiplicidade vinculam-se profundamente.
A comunhão eucarística não é algo que se vive de forma enclausurada na Igreja. Ela se expressa na responsabilidade de testemunhar, profeticamente, o Evangelho de Cristo no mundo. A Eucaristia é concretização do Evangelho da partilha, da comunhão, da doação e do serviço. Esse Evangelho deve ser vivido de modo convincente pelos cristãos que caminham com o corpo e o sangue do Senhor pelas ruas da cidade e fazem da praça pública um altar de adoração. A festa de Corpus Christi é, assim, a festa também do corpo humano e social superando toda dor e sofrimento injusto, todas as situações de pobreza, miséria e violência que impedem cada pessoa de viver a “vida em abundância” (Jo 10,10) que Cristo quer.
Disso decorre um compromisso fundamental da celebração eucarística e da caminhada que a comunidade eclesial faz com o sacramento: a corresponsabilidade na missão, a amizade dos muitos dispersos que se reúnem, a fraternidade no estar face-a-face e lado-a-lado, a solidariedade para com os que sofrem física e espiritualmente. A partilha do pão sacramental só é real no contexto de partilha da vida. Para celebrar o pão é preciso ter pão; para concelebrar é preciso ser-com. O pão e a vida não são realidades para serem usadas egoisticamente. Daqui a dimensão profética da celebração da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo: exigência de pão e de vida para todas as pessoas. Sem pão não há Eucaristia; sem Eucaristia não há Igreja. Sem a partilha do pão e da Eucaristia, a Igreja não testemunha no mundo a realidade do Reino de vida na paz, na fraternidade e na justiça. Tal é o significado da celebração pública de Corpus Christi.

Pe. Elias Wolff
Pároco da Paróquia Santo Antônio (Parolin)
Prof. de Teologia (PUCPR).

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