Dia da Consciência Negra: “Toda a ação em benefício do povo negro é ação de libertação” – dom Zanoni
Celebrado
neste 20 de novembro, O Dia da Consciência Negra, o bispo referencial da
Pastoral Afro-Brasileira da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
dom Zanoni Demettino Castro, fala do trabalho da pastoral e dos desafios para a
questão racial no Brasil e para a Igreja. O arcebispo de Feira de Santana (BA)
entende que a Pastoral Afro-Brasileira tem o papel de identificar e elencar as
iniciativas dos vários grupos, em prol da população negra, da juventude negra,
de resgate e de políticas afirmativas que existem na Igreja no Brasil.
Dom Zanoni
defende que é missão de toda a Igreja o cuidado pastoral com a questão racial.
“A Pastoral não pode ser ação de um grupo reservado, de uma elite pensante, mas
ação da Igreja toda”, argumenta. Em sua avaliação a preocupação com a Pastoral
Afro-Brasileira deveria ser transversal à ação de todas as pastorais,
organismos e igrejas particulares uma vez que a maioria da população brasileira
é constituída de negros segundo aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatísticas (IBGE).
“A maioria
absoluta de nossa gente é afro-brasileira. Temos presente que a maioria dos
pobres é de afrodescendente. Se vamos aos presídios o número de afrodescendente
é bem maior. A realidade de extermínio da juventude negra cresce
assustadoramente. Como dar uma notícia boa a essa gente? Como ser fiel ao
mandato evangelizador do nosso Senhor Jesus? A Pastoral Afro-Brasileira é
missão nossa, não só de um grupo, mas de toda a Igreja. Não só de uns bispos,
mas de todos os pastores”, disse. Acompanhe, abaixo, a íntegra da entrevista
com dom Zanoni.
Qual o panorama da Pastoral
Afro-Brasileira?
O Panorama da Pastoral Afro-Brasileira é a missão da Igreja toda. É evangelizar
e dar uma notícia boa ao povo brasileiro. A maioria absoluta de nossa gente é
afro-brasileira. Uma riqueza de cultura, tradição, música. O modo de viver,
compreender o mundo, ter a sua família. Esse povo que foi trazido escravizado
da África e obrigado a trabalhar no plantio da cana de açúcar, no cuidado das
fazendas e na plantação do café. Uma caminhada, uma história de dor e
sofrimento. É essa gente que passou por 300 anos pelo processo de escravidão e
até hoje esse crime não foi suficientemente reparado. Como anunciar, ser fiel
ao mandato de Jesus, à essa gente.
Temos presente que a maioria dos pobres é afrodescendente. Se vamos aos
presídios o número de afrodescendente é bem maior. A realidade de extermínio da
juventude afro cresce assustadoramente. O assassinato da juventude negra. Como
dar uma notícia boa a essa gente? Como ser fiel ao mandato evangelizador do
nosso Senhor Jesus? A Pastoral não pode ser ação de um grupo reservado, de uma
elite pensante, mas ação da Igreja toda. Uma pastoral transversal que envolve a
Pastoral da Criança, a Pastoral do Menor, a Pastoral da Juventude, Família e
Pastoral Vocacional. A Igreja toda, como tem proposto o Papa.
A Igreja toda é chamada a evangelizar, como nos tem proposto o Papa. É
preciso escutar, ter presente a realidade concreta das pessoas. Se esse povo
não é assumido, como dizia São Gregório Nazianzo, não será redimido. Então,
essa é a realidade. Temos esse desafio grande para ser enfrentado.
Quais projetos e linhas de ação da
Pastoral Afro-Brasileira?
A Pastoral Afro-Brasileira tem tentado ter presente em cada regional um bispo
referencial. Em nosso trabalho com a Pastoral Afro-Brasileira procurarmos
perceber aquilo que já existe. Há uma riqueza de trabalho, de iniciativas.
Nossa missão é articular, organizar e incentivar.
Esse ano nós temos acompanhado os Congressos das Comunidades Negras e
Católicas, pensando a pastoral, tendo presente o desafio que a Igreja enfrenta
neste momento. Acompanhado também a irmandades que é a maneira mais tradicional
e antiga da catolicidade do povo brasileiro. E perceber também como estar
presente e mais próximo das comunidades quilombolas. Esta é uma insistência
nossa, que o Sínodo tivesse presente esta realidade tão desafiadora. Esta é a
missão nossa, não só de um grupo, mas de toda a Igreja. Não só de uns bispos,
mas de todos os pastores. E aquilo que dom Helder no seu belíssimo poema “Mariama”,
dizia que toda a Igreja e a CNBB assumisse de cheio a causa do povo negro.
É importante na nossa reflexão pastoral, como nos ensina a Conferência
Episcopal de Aparecida, que o povo negro é chamado e já é protagonista da
gestação de uma nova cultura e realidade. Tendo presente a riqueza de sua
tradição, literatura e sua filosofia. O modo de viver, a culinária, a tradição
oral e escrita, o modo de ensinar da agricultura, a música e a compreensão de
mundo. Isto marca profundamente. Por isso, que o negro não é só sujeito, como
ensina a Igreja, mas protagonista da gestação de um novo tempo, uma nova época,
como nos pede a Igreja.
A Pastoral Afro-Brasileira tem uma missão de assessoramento e
acompanhamento. Não de fazer no lugar dos pastores, bispos e padres e dos
agentes de pastoral. Mas está respaldando as milhares de iniciativas que
existem no Brasil. Através do Congresso Nacional das Comunidades Negras de
reflexão, de aprofundamento; Por meio das romarias, como a Romaria Nacional de
Aparecida (SP), do encontro das irmandades e das comunidades negras e da
romaria das comunidades quilombolas. É nosso papel tentar identificar e elencar
as iniciativas dos vários grupos, em prol da população negra, da juventude
negra, de resgate e de políticas afirmativas. Toda a ação em benefício do povo
negro é ação de libertação. Está integralmente na ação pastoral da Igreja.
Sobre a luta racial, quais os desafios brasileiros?
Vivemos um momento difícil no Brasil, de perdas de direito, de ameaças à
vida de lideranças. A nossa Constituição Cidadã está sendo desprezada e jogada
ao lixo. Cabe a nós, Pastores da Igreja, que assumimos a ação evangelizadora da
Igreja nos empenhar seriamente para que a causa do negro, a defesa dos seus
direitos, o resgate da sua dignidade esteja na pauta. Na luta constante em
defesa de políticas públicas, como aconteceu com a Igreja assumindo a Campanha
da Fraternidade. Então é fundamental. A realidade das pessoas não é algo
indiferente à ação Evangelizadora. A libertação integral da pessoa humana como
nos ensina o magistério da Igreja. O rosto concreto dos afrodescendentes, dos
quilombolas, dos ribeirinhos é o rosto do próprio Cristo. Por isto que a missão
da Igreja, a missão de Jesus, a missão de anunciar a boa nova aos pobres.
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O Panorama da Pastoral Afro-Brasileira é a missão da Igreja toda. É evangelizar e dar uma notícia boa ao povo brasileiro. A maioria absoluta de nossa gente é afro-brasileira. Uma riqueza de cultura, tradição, música. O modo de viver, compreender o mundo, ter a sua família. Esse povo que foi trazido escravizado da África e obrigado a trabalhar no plantio da cana de açúcar, no cuidado das fazendas e na plantação do café. Uma caminhada, uma história de dor e sofrimento. É essa gente que passou por 300 anos pelo processo de escravidão e até hoje esse crime não foi suficientemente reparado. Como anunciar, ser fiel ao mandato de Jesus, à essa gente.
A Pastoral Afro-Brasileira tem tentado ter presente em cada regional um bispo referencial. Em nosso trabalho com a Pastoral Afro-Brasileira procurarmos perceber aquilo que já existe. Há uma riqueza de trabalho, de iniciativas. Nossa missão é articular, organizar e incentivar.